A Índia suspendeu nesta quinta-feira, 21, os serviços de vistos para cidadãos canadenses em meio a uma disputa diplomática séria, depois que o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, declarou que o governo indiano estava conectado ao assassinato de um separatista Sikh em solo canadense.
O provedor de serviços Visa BLS postou uma mensagem da missão indiana culpando “razões operacionais” pela decisão.
“Aviso importante da Missão Indiana: devido a razões operacionais, com efeitos a partir de 21 de setembro de 2023, os serviços de vistos indianos foram suspensos até novo aviso”, disse a Visa BLS em comunicado em seu site nesta quinta-feira.
As relações entre os países, que têm sido tensas durante meses, chegaram ao pior nível da história, segundo analistas, depois que o Canadá comunicou nesta terça-feira 19 que abriu uma investigação sobre “alegações credíveis” que ligam a Índia ao assassinato de Hardeep Singh Nijjar, cidadão canadense e um líder separatista Sikh, minoria que acusa o governo nacionalista hindu do premiê indiano, Narendra Modi, de repressão.
O governo Modi designou Nijjar como terrorista em 2020. A Índia rejeitou com raiva a alegação, chamando-a de “absurda”.
A suspensão dos vistos ocorre um dia depois de Nova Délhi emitir um comunicado instando seus cidadãos que vivem no Canadá ou que viajarem para lá a “exercerem a máxima cautela” em vista das “crescentes atividades anti-Índia e dos crimes de ódio e violência criminal, politicamente tolerados no Canadá”.
O país norte-americano tem 1,4 milhão de habitantes de origem indiana, representando 3,7% da população do país, de acordo com o censo de 2021. A Índia também envia o maior número de estudantes internacionais para o Canadá – em 2022, eles representavam 40% do total de estudantes estrangeiros, ou 320 mil pessoas.
Na quarta-feira 20, o governo Modi disse que seus diplomatas e alguns indianos “que se opõem à agenda anti-Índia” foram ameaçados recentemente.
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A acusação
O líder separatista Nijjar foi morto a tiros em seu veículo por dois homens armados e mascarados do lado de fora de um templo Sikh. O crime ocorreu em 18 de junho, na Colúmbia Britânica, no Canadá.
“Qualquer envolvimento de um governo estrangeiro no assassinato de um cidadão canadense em solo canadense é uma violação inaceitável da nossa soberania”, disse Trudeau ao parlamento na segunda-feira 18.
Os separatistas Sikh que moram em países ocidentais, como o Canadá, a Austrália e o Reino Unido, são livres para se manifestar a favor da criação do Calistão, ou um país Sikh, em uma parte do território indiano. O movimento atingiu o auge na Índia na década de 1980, com uma insurgência violenta centrada no estado de Punjab, de maioria Sikh, mas foi fortemente reprimido e tem agora pouca ressonância na Índia.
O Canadá abriga a maior população Sikh fora da Índia, com cerca de 780 mil pessoas – mais de 2% da população do país – e foi palco de vários protestos e manifestações pró-Calistão.