Imprensa internacional destaca exoneração de diretor do Inpe
'El País', da Espanha, fala em ‘discurso de desprezo pelo meio ambiente’ adotado por Jair Bolsonaro
A exoneração do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o engenheiro Ricardo Galvão, depois de desentendimentos com o presidente Jair Bolsonaro, foi notícia em diversos veículos da imprensa internacional nesta sexta-feira, 2.
Galvão foi acusado por Bolsonaro de estar “a serviço de alguma ONG” após a divulgação de dados do Inpe que mostraram um aumento de 88% no desmatamento da Amazônia em junho em relação ao mesmo mês de 2018. O presidente afirmou que os números eram “mentirosos” e o diretor do instituto respondeu, classificando a atitude do chefe do Executivo como “pusilânime e covarde”.
Em uma matéria sobre a crise instalada entre o governo e o instituto de pesquisas, o jornal espanhol El País afirmou que a administração de Bolsonaro atacou a “medição oficial” de desflorestamento do país.
“O desmatamento da Amazônia tornou-se anos atrás a escala pela qual o resto do mundo avalia a política ambiental do Brasil”, diz a reportagem. “E é por isso que os dados que são divulgados todo mês irritam tanto o presidente Jair Bolsonaro”.
“O discurso de desprezo pelo meio ambiente com o qual Bolsonaro chegou ao poder, sua decisão de paralisar as políticas de preservação e enfraquecer os órgãos de supervisão coincidiram com a crescente relevância que a crise climática adquiriu na Europa, entre outras razões, pelas ondas de calor sem precedentes neste verão”, opina ainda o El País.
Já a agência de notícias AFP classificou o presidente brasileiro como “cético em relação às mudanças climáticas e favorável à abertura de áreas protegidas para atividades agrícolas”.
O jornal britânico The Guardian avaliou que Jair Bolsonaro e seus assessores temem que os dados alarmantes de desmatamento na Amazônia “prejudiquem um importante acordo comercial entre o bloco sul-americano Mercosul e a UE [União Europeia]”. “Ambientalistas dizem que o estrago já foi feito”, conclui a reportagem.
Antes da assinatura do acordo de livre-comércio Mercosul-União Europeia, o presidente francês Emmanuel Macron ameaçou acabar com qualquer parceria caso o governo brasileiro não mudasse suas políticas ambientais e saísse do Acordo de Paris. Bolsonaro já afirmou que não deixará o tratado contra mudanças climáticas.
A emissora BBC, em uma reportagem em seu site, afirma que diversos cientistas já apontaram que “a Amazônia sofreu perdas em um ritmo acelerado sob o governo de Bolsonaro, com políticas que favorecem o desenvolvimento em prol da conservação”.
“Como a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia é um estoque de carbono vital que diminui o ritmo do aquecimento global”, diz a BBC.
Já a agência Bloomberg escolheu ressaltar as qualificações de Ricardo Galvão, que é “engenheiro de telecomunicações com mestrado em engenharia elétrica e doutorado em física pelo Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT)”.“Galvão foi nomeado chefe do instituto de pesquisa espacial em setembro de 2016”, diz ainda.
O jornal The Times, da Inglaterra, publicou uma extensa reportagem sobre a política ambiental brasileira. Com o título “Declarações duras de Jair Bolsonaro colocam a Floresta Amazônica do Brasil em perigo”, o texto trata do desmatamento da floresta e da escalada da violência na região “desde que os brasileiros elegeram um presidente que parece encorajar a exploração da Amazônia”.