Imagens de satélite indicam evidências de valas comuns em Mariupol
Acusação feita por autoridades locais acontece horas depois de governo russo anunciar controle da cidade

Autoridades ucranianas disseram nesta quinta-feira, 21, que valas comuns foram identificadas nos arredores de Mariupol, em meio ao anúncio de Vladimir Putin de que tropas russas tomaram a cidade. As declarações foram baseadas em imagens de satélites coletadas e analisadas pela empresa americana Maxar Technologies.
Em publicação nas redes sociais nesta quinta, Petro Andriushchenko, assessor do prefeito de Mariupol, afirmou que as imagens de Manhush, a cerca de 19 quilômetros de Mariupol, mostravam moradores mortos em valas de aproximadamente 30 metros.
“Caminhões carregam os corpos dos mortos, na verdade, simplesmente despejando-os no aterro”, disse o assessor. “Esta é uma evidência direta de crimes de guerra e tentativas de encobri-los.”
A declaração sobre valas comuns se dá em meio à tomada da cidade por tropas russas. Nesta quinta-feira, Putin disse que suas forças assumiram controle “com sucesso” da região e ordenou um cerco à usina de Azovstal, onde quase 2.000 militares ucranianos ainda permanecem entrincheirados.
“O fim do trabalho de libertação de Mariupol é um sucesso”, afirmou Putin ao ministro da Defesa, Serguei Shoigu, em um encontro televisionado. A cidade, que virou símbolo da destruição da guerra, era considerada o último obstáculo para a conclusão da “ponte terrestre” da Rússia para a Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
Após o anúncio do presidente russo, a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, exigiu que a Rússia permita um corredor humanitário imediato para que os civis sejam retirados da região. Segundo ela, 1.000 civis e 500 soldados feridos precisam ser retirados imediatamente.
Bombardeios e confrontos em solo já deixaram grande parte da região pulverizada, matando pelo menos 21.000 pessoas, segundo estimativas ucranianas. A queda é vista por analistas como o avanço mais estratégico para a Rússia desde o início da invasão ao país vizinho, em 24 de fevereiro.
O prefeito de Mariupol, Vadym Boichenko, também afirmou que as forças russas enterraram corpos no local. Autoridades ucranianas alegam que até 20.000 pessoas morreram durante os ataques.
“Mais de 20.000 civis – mulheres, crianças, idosos – morreram nas ruas de nossa cidade por artilharia inimiga (…) E, infelizmente, vimos que os corpos dos moradores mortos de Mariupol começaram a desaparecer das ruas de nossa cidade”, disse Boichenko.
Segundo ele, “há um campo perto do cemitério, e neste campo há valas, de 30 metros de comprimento, e lá eles os enterram, trazem os corpos dos mortos em caminhões e os jogam nessas valas”.
As declarações desta quinta se somam a uma longa lista de acusações envolvendo a prática. Desde que tropas da Rússia deixaram Kiev e cidades dos arredores, há cerca de três semanas, mais de 900 corpos de civis foram encontrados na região, segundo a polícia regional. De acordo com ela, a maior parte dos corpos foi abandonada nas ruas ou enterrada em valas comuns e mais de 90% das vítimas morreram por ferimentos de tiros.
Para a Rússia, no entanto, serviços da inteligência dos EUA e do Reino Unido seguem ajudando a Ucrânia a forjar novas alegações falsas de supostos crimes de guerra cometidos no noroeste do país, embora não tenha fornecido nenhuma evidência. O Kremlin nega veementemente ter atacado qualquer alvo civil desde o início do conflito, em 24 de fevereiro, e acusa o Ocidente de fazer uma “falsificação monstruosa” destinada a prejudicar a imagem russa perante o mundo.
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (Acnudh), que está revisando vídeos e materiais recebidos sobre a situação, declarou que análises preliminares “parecem sugerir” um assassinato de civis de forma deliberada, de acordo com a porta-voz Liz Throssell.