O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmou em discurso na Casa Branca nesta quarta-feira, 14, que a retirada das forças militares dos EUA do Afeganistão começará no dia 1º de maio e será finalizada antes de 11 de setembro, 20 anos depois dos ataques terroristas de 2001 às Torres Gêmeas.
“É hora de acabar com a nossa guerra mais longa. É hora de trazer as nossas tropas para casa”, afirmou o democrata. “Eu sou o quarto presidente a participar desta guerra. Foram dois republicanos e dois democratas. Eu não quero passar essa responsabilidade para o quinto”.
“It is time for American troops to come home.” — President Biden announcing the withdrawal of troops from Afghanistan pic.twitter.com/hHJm0nDuib
— The White House (@WhiteHouse) April 14, 2021
Durante o discurso, o presidente também lembrou de seu filho, Beau Biden, convocado ao Iraque por um ano. O mandatário, que é o primeiro presidente dos EUA em 40 anos a ter um filho que serviu no Exército, lembrou ainda que os objetivos da ocupação foram cumpridos em 2011 com a morte de Osama Bin Laden, então líder da al-Qaeda, responsável pelos ataques de 11 de setembro. Desde então, segundo ele, não há motivos concretos para a continuação da permanência das tropas, uma vez que o terrorismo se espalhou por vários cantos do mundo.
A decisão foi coordenada com uma série de outros agentes no campo nacional e internacional, como o ex-presidente George W. Bush e o atual presidente afegão, Ashraf Ghani. Biden anunciou ainda que as retiradas das tropas terão início do dia primeiro de maio.
Contudo, a decisão adia em quatro meses o prazo estipulado anteriormente. Pouco antes de deixar o governo, o ex-presidente Donald Trump, em negociação com o Talibã, que detém o controle do país, havia estipulado o dia 1º de maio como data limite, e não de início. O acordo previa que, em troca da retirada, o grupo reduziria seu apoio a grupos terroristas da região.
O Talibã deve romper todos os laços com a al-Qaeda, além de iniciar negociações com o governo afegão rumo a um cessar-fogo e um acordo de paz. As conversas começaram em setembro passado, mas ainda não evoluíram e a organização chegou a aumentar seu território.
Ainda assim, a medida foi elogiada por Ghani, que afirmou que o país “respeita a decisão americana e irá trabalhar com parceiros americanos para garantir uma transição tranquila”. Ele também reafirmou que o país tem plena capacidade de defesa.
Tonight, I had a call with President Biden in which we discussed the U.S. decision to withdraw its forces from Afghanistan by early September. The Islamic Republic of Afghanistan respects the U.S. decision and we will work with our U.S. partners to ensure a smooth transition.
— Ashraf Ghani (@ashrafghani) April 14, 2021
Em uma entrevista à ABC News em março, Biden já havia alertado que seria “difícil” cumprir o prazo de Trump. Atualmente, há 3.500 soldados no Afeganistão, além de mais 7.000 soldados estrangeiros na coalizão, a maioria da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Ainda não está claro como, ou se, acontecerá a retirada de militares dos países membros da Otan. A Alemanha, por exemplo, tem a segunda maior força da região, com mais de 1.000 pessoas. O secretário da organização, Jens Stoltenberg, disse nesta quarta-feira que a retirada será “ordenada, coordenada e deliberada”.
Citando fontes próximas ao presidente, o Washington Post relatou que, na prática, a decisão de Biden representa uma mudança de foco nas ameaças externas ao país. O Afeganistão deixa de ser prioridade, sendo substituído por outros atores, como China e Rússia.
Alguns líderes militares americanos e da Otan disseram que a violência na região ainda é muito alta para justificar uma retirada total. Eles também alertaram que a saída pode levar ao colapso do governo de Cabul, ao mesmo tempo que prejudicará os avanços vistos nas últimas duas décadas em saúde, educação e direitos das mulheres.
Segundo o Post, a escolha de Biden foi dura. No geral, a opinião pública e uma parcela significativa (e bipartidária) do Congresso pressionam pela retirada, então manter os soldados pode levar a mais entraves políticos em casa e novos ataques do Talibã. Por outro lado, uma saída abrupta poderia minar conquistas das últimas décadas, reduzir a possibilidade de um acordo de paz e levar à tomada total de poder pelo grupo.