Após cinco anos, um motorista de caminhão foi condenado nesta sexta-feira, 16, por um massacre a tiros contra uma sinagoga de Pittsburgh em 2018. Com 11 vítimas fatais, o episódio é considerado o ataque antissemita mais mortal na história dos Estados Unidos.
O veredito de culpado já era esperado. Os próprios advogados do suspeito, Robert Bowers, admitiram no início do julgamento que seu cliente atacou e matou fiéis na sinagoga da Árvore da Vida, em 27 de outubro de 2018.
Um júri popular agora vai decidir se o homem de 50 anos deve ser enviado para o corredor da morte, ou condenado à prisão perpétua sem liberdade condicional. A nova fase do julgamento federal, com início marcado para 26 de junho, deve durar várias semanas.
Bowers foi condenado por todas as 63 acusações pelas quais foi indiciado, incluindo os gravíssimos crime de ódio resultando em morte, bem como obstrução do livre exercício da religião resultando em morte.
Os advogados do réu tentaram negociar um “plea bargain” com os promotores federais, no qual o órgão de acusação oferece uma proposta de acordo que pode reduzir a pena pleiteada. Em troca de uma confissão de culpa, Bowers receberia apenas uma sentença de prisão perpétua.
A proposta, no entanto, foi recusada. O caso será levado a julgamento e a pena de morte está na mesa. A maioria das famílias das vítimas expressou apoio à decisão dos promotores.
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Antes de chegar ao veredito final, o júri deliberou por cinco horas durante dois dias. Bowers demonstrou pouca reação ao ser condenado.
Na quinta-feira 15, durante uma audiência, uma promotora disse aos jurados que o réu transformou a casa sagrada de culto em um “terreno de caça”, escolhendo suas vítimas por causa de sua religião. Em seguida, ela leu o nome dos 11 mortos e pediu ao júri para “responsabilizar este réu por aqueles que não podem testemunhar”.
Ao longo de 11 dias de depoimentos, os promotores apresentaram evidências do profundo ódio de Bowers contra judeus e imigrantes. Na rede social Gab, popular entre a extrema direita, ele postava e compartilhava conteúdo antissemita e de supremacia branca, além de elogiar Adolf Hitler e o Holocausto.
De acordo com uma promotora, Bowers afirmou para a polícia que “todos esses judeus precisam morrer”.
Os sobreviventes testemunharam sobre o terror que sentiram no dia do ataque. Andrea Wedner, a última depor no julgamento, disse que foi baleada no braço e depois percebeu que sua mãe, de 97 anos, havia sido morta bem ao lado dela.
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Carole Zawatsky, CEO da congregação Árvore da Vida, disse que espera que o veredito forneça aos sobreviventes e familiares das vítimas “algum nível de conforto e ajude a aliviar a dor, mesmo que ligeiramente”.
Os advogados de Bowers estão focados em salvar a vida do réu. Parte da defesa consiste em provar que ele tem esquizofrenia, epilepsia e deficiências cognitivas. Sua equipe argumenta, ainda, que ele não atacou a sinagoga por conta da religião das vítimas, mas por acreditar que os judeus estavam cometendo genocídio ao ajudar refugiados a se estabelecerem nos Estados Unidos.
As três congregações que compartilhavam o prédio da sinagoga, Dor Hadash, Nova Luz e Árvore da Vida, realizam protestos contra o antissemitismo e outras formas de fanatismo desde o ataque. A Árvore da Vida também está reformando a casa de culto, que ainda existe, mas foi fechado desde o tiroteio, para se tornar um santuário, museu, memorial e centro de combate ao antissemitismo.
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Em sua campanha eleitoral em 2020, o presidente americano, Joe Biden, prometeu criar mecanismos para acabar com a pena de morte nos estados que ainda aplicam a sentença. O procurador-geral dos Estados Unidos, Merrick Garland, suspendeu temporariamente as execuções para revisar políticas e procedimentos da prática.
Entretanto, promotores federais lutam para manter as pena de morte já emitidas, assim como sua viabilidade em casos de crimes elegíveis, como o de Bowers.