Hamas e Fatah firmam acordo para governar Gaza após fim da guerra
Os grupos, após décadas de rivalidade, devem formar um comitê conjunto composto por até 15 figuras apartidárias; Israel tem 24h para responder
O grupo terrorista palestino Hamas e o partido secular Fatah, principal força por trás da Autoridade Palestina (AP), rivais há décadas, concordaram em formar um comitê conjunto para governar a Faixa de Gaza após o fim da guerra contra Israel, disseram negociadores de ambos os lados nesta terça-feira, 3.
O acordo, firmado após semanas de negociações mediadas pelo Egito no Cairo, prevê que o Fatah, que governa parte da Cisjordânia ocupada por Israel, e o Hamas, que controla Gaza desde 2007, nomeiem em conjunto um comitê composto por 10 a 15 figuras apartidárias com autoridade em questões relacionadas à economia, educação, saúde, ajuda humanitária e reconstrução, de acordo com um rascunho da proposta visto pela agência de notícias AFP.
O documento afirma que o comitê terá “todos os poderes necessários para cumprir as suas funções, tomar decisões e preparar as regulações necessárias para organizar o seu trabalho”, mas não menciona o que acontecerá com o atual governo de Gaza, controlado pelo Hamas.
O objetivo do comitê seria manter a unidade dos territórios palestinos e fortalecer a comunicação entre os governos na Cisjordânia e em Gaza. O projeto ainda precisa ser aprovado pelo presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
De acordo com o relatório, o comitê só começaria a administrar a região depois que as fronteiras para Gaza voltarem a operar como antes do início do conflito e a travessia de Rafah entre Gaza e Egito for reaberta.
O jornal catari Al-Araby Al-Jadeed, sediado em Londres, também disse ter visto uma cópia do documento e relatou que o comitê, “subordinado ao governo palestino” com sede na Cisjordânia, deve continuar a governar a Faixa de Gaza até que “as razões que levaram à sua formação sejam eliminadas”, eleições gerais sejam realizadas, “ou outra fórmula acordada nacionalmente seja adotada”.
O relatório alegou que Israel tinha 24 horas para responder e expor seus argumentos caso rejeitasse o acordo.
Hamas versus Fatah
O partido político Fatah foi fundado em 1959, após o êxodo palestino conhecido como Nakba, por Yasser Arafat (1929-2004) e Abbas. O Fatah é secular, ou seja, livre de dogmas religiosos. Seu nome significa “conquistar”, além de ser um acrônimo para o árabe “Harakat al-Tahrir al-Filistiniya” – que em português significa Movimento de Libertação Nacional da Palestina.
O partido domina a Autoridade Palestina, que manteve o controle administrativo de Gaza até 2007. A AP foi criada em meados da década de 1990 como um governo interino, enquanto aguarda a criação de um Estado palestino. Com sede na cidade ocupada de Ramallah, na Cisjordânia, exerce autogoverno nominal em partes do território.
Quando o Hamas venceu as eleições legislativas de 2006, a rivalidade entre as duas principais forças políticas da Palestina se intensificou. Rejeitando o resultado da votação, o Fatah dissolveu o Conselho Nacional Palestino e assumiu o controle apenas da AP, que tem poder administrativo parcial na Cisjordânia, ocupada por militares e colonos israelenses.
O Fatah, ao contrário do Hamas, não é considerado um grupo extremista ou radical há décadas pela comunidade internacional.
Inicialmente, sua estratégia era libertar o território da Palestina histórica através da luta armada contra o Estado de Israel. Após a Guerra Árabe-Israelense de 1967, sob a gestão de Arafat, o Fatah se tornou o partido dominante na Organização de Libertação da Palestina (OLP), que foi classificada como uma organização terrorista pelo governo israelense por assassinatos e sequestros de civis.
No entanto, nas décadas de 1970 e 1980, o Fatah passou por mudanças radicais após sua expulsão do Líbano e da Jordânia, quando começou a fazer negociações com Israel. Após renunciar à luta armada completamente em 1990, a OLP tornou-se representante dos palestinos nas Nações Unidas. Também assinou os Acordos de Oslo com Israel, um dos maiores passos para encerrar o conflito no Oriente Médio, que levaram à criação da AP.
Hoje, enquanto o Hamas defende a resistência armada para a destruição total de Israel, o Fatah reconhece o Estado judeu e propõe negociações pacíficas para uma solução de dois Estados. A reconciliação entre os dois grupos foi impulsionada pela intensificação da guerra em Gaza.