Hamas diz que proposta de cessar-fogo dos EUA não atende ‘demandas justas’
Governo israelense é o maior beneficiado no acordo apresentado pelo enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, segundo grupo palestino

O grupo palestino radical Hamas anunciou nesta sexta-feira, 30, que está “atualmente realizando uma revisão completa e responsável” da proposta dos Estados Unidos para um cessar-fogo na guerra na Faixa de Gaza. Segundo os líderes do Hamas, Israel, que já aceitou o plano, é o maior beneficiado no acordo apresentado pelo enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, com mediação do Catar e do Egito.
“Esta avaliação é guiada por um profundo senso de responsabilidade nacional e um firme compromisso com a proteção dos direitos e o futuro do povo palestino em sua terra”, disse Bassem Naim, um membro do alto escalão do Hamas.
Um rascunho do documento, obtido pela agência de notícias Reuters, propõe 60 dias de trégua e a libertação de 28 reféns israelenses, vivos e mortos, na primeira semana, bem como a libertação de 125 prisioneiros palestinos condenados à prisão perpétua e dos restos mortais de 180 palestinos mortos. Naim, no entanto, disse que o texto “não atende a nenhuma das demandas justas e legítimas do nosso povo, entre elas a cessação imediata das hostilidades e o fim da catástrofe humanitária que se desenrola em Gaza”.
“A resposta sionista, em essência, significa perpetuar a ocupação e continuar a matança e a fome”, acusou Naim à agência de notícias Associated Press, acrescentando que a proposta americana “não atende a nenhuma das demandas do nosso povo, a principal das quais é o fim da guerra e da fome.”
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Netanyahu sob pressão
De um lado, Israel demanda o desarmamento completo do grupo palestino, além do seu desmantelamento como força militar e governante de Gaza, e que todo os 59 reféns mantidos no enclave — acredita-se que apenas 24 ainda estejam vivos — sejam devolvidos antes de um acordo para o fim da guerra. O Hamas, por sua vez, teme que a forças israelenses quebrem o cessar-fogo, como fizeram em março, e retomem o conflito. Segundo os termos do acordo, Tel Aviv poderá voltar a atacar o território após os 60 dias.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, enfrenta toda sorte de problemas dentro de casa. Na semana passada, uma pesquisa publicada pela emissora Channel 12 revelou que 55% dos israelenses entrevistados acreditavam que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, estava mais interessado em permanecer no poder do que em lutar pela libertação dos reféns. Além disso, 61% deles relataram querer o fim da guerra, contra 25% que apoiaram a expansão dos combates e a ocupação de Gaza.
Enquanto legisladores árabes-israelenses apelam pelo fim da guerra, políticos da extrema direita aumentaram o tom das ameaças. O ministro de extrema direita, Itamar Ben Gvir, disse nesta sexta-feira que era hora de usar “força total, sem pestanejar” em Gaza, argumentando: “Sr. Primeiro-Ministro, depois que o Hamas rejeitou a proposta de acordo novamente, não há mais desculpas”.
“Permaneci no governo para garantir que retornássemos aos combates até que os objetivos da guerra fossem alcançados, principalmente a destruição do Hamas e a libertação dos reféns. No momento em que eu perceber que o Estado de Israel não alcançará a vitória na Faixa de Gaza e vai desistir e se render a uma organização terrorista, não apenas deixarei o governo, como o derrubarei o mais rápido possível. Já disse isso inúmeras vezes”, afirmou.
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Críticas dos militares
Cerca de 1.200 oficiais das Forças de Defesa de Israel (FDI) condenaram nesta terça-feira, 27, a guerra na Faixa de Gaza em carta aberta ao governo e ao comando do Estado-Maior israelense. Os militares, tanto da ativa quanto da reserva, apelam para o retorno dos 59 reféns que permanecem no enclave palestino, dos quais 24 estão vivos e 35 mortos, e afirmaram que o conflito” não serve à segurança nacional de Israel e, portanto, é imoral”.
“Nós, antigos e atuais oficiais e comandantes da reserva das FDI, exigimos que o governo e o chefe do Estado-Maior parem a guerra política em Gaza e devolvam imediatamente todos os reféns”, diz a carta, antecipada ao jornal israelense Haaretz, acrescentando que “continuar a guerra vai contra a vontade da esmagadora maioria do público, resultará na morte de reféns, soldados das FDI e civis inocentes, e pode até levar à prática de crimes de guerra.”
O texto também indica que “esta é uma guerra para preparar a ocupação de Gaza e tem como objetivo implementar a visão messiânica de uma pequena minoria na sociedade israelense”. Na terça-feira, Israel anunciou uma nova fase de sua ofensiva militar na Faixa de Gaza, com o objetivo de tomar três quartos do território palestino até julho. A estratégia, segundo autoridades militares, busca desalojar o Hamas, forçando a população civil a se concentrar em apenas 25% da região.