Iniciada em dezembro, a mais recente escalada de tensão entre os Estados Unidos e o Irã atingiu ponto máximo de fervura na madrugada desta sexta (3).
Coordenado pelos EUA, um ataque contra o aeroporto em Bagdá matou ao menos oito pessoas, entre elas Qasem Soleimani, o chefe da Força Revolucionária da Guarda Quds do Irã, uma divisão de elite do regime dos aiatolás.
Ele era considerado um possível sucessor do atual presidente iraniano Hassan Rouhani.
O pentágono confirmou que a ação foi ordenada pelo presidente Donald Trump.
“Os militares dos EUA tomaram medidas defensivas decisivas para proteger o pessoal dos EUA no exterior, matando Qasem Soleimani”, afirmou o Pentágono, em nota.
“Este ataque teve como objetivo impedir futuros planos de ataque iranianos. Os Estados Unidos continuarão a tomar todas as medidas necessárias para proteger nosso povo e nossos interesses, onde quer que estejam ao redor do mundo”, prossegue o texto.
É a segunda açãp bélica dos EUA na região nos últimos dias. No domingo (29), jatos americanos F-15 torpedearam cinco bases da milícia xiita Kataib Hezbollah na Síria e no Iraque, o que, segundo o porta-voz do grupo, resultou em 24 mortos e 50 feridos.
O ataque provocou forte reação iraniana e o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que seu exército reagirá sem hesitar caso o regime tenha seus interesses ameaçados.
O bombardeio desencadeou ainda violentos protestos em Bagdá, que culminaram na invasão da embaixada americana na terça-feira 31.
Apoiadores da milícia cercaram o complexo, a maior missão diplomática dos EUA no mundo, provocando uma série de incêndios em seu entorno. A confusão só terminou quando a própria Kataib Hezbollah fez um apelo pela desmobilização.
“O Irã entende que Trump não quer uma guerra total. Mas errou ao assumir que o país nada faria contra suas agressões”, diz Kirsten Fontenrose, conselheira do Atlantic Council, em Washington.
A gota d’água para a ação militar aconteceu na sexta-feira 27, quando um míssil disparado por guerrilheiros matou um civil americano em Kirkuk, importante centro de produção petrolífera localizado no nordeste do Iraque. O homem trabalhava como empreiteiro numa base militar.
De acordo com o Pentágono, a milícia é sustentada por Teerã com armas, dinheiro e logística como forma de expandir a influência dos aiatolás na região.
Segundo o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, a Kataib Hezbollah foi responsável por ao menos 30 investidas com mísseis contra aliados americano.
“Não vamos tolerar que o Irã coloque americanos em risco”, disse Pompeo, horas depois do ataque. A região do Golfo Pérsico inicia 2020 como a mais quente arena da geopolítica internacional.
Dois dias antes de Trump bombardear bases da Kataib Hezbollah, China, Rússia e Irã realizaram exercícios militares em conjunto.
Num claro recado aos americanos, a ação foi definida pelo porta-voz do Ministério da Defesa chinês, Wu Qian, como um “aprofundamento da cooperação entre as marinhas dos três países”.
A Rússia, por exemplo, aproveitou a ocasião para divulgar o lançamento do foguete capaz de deslocar-se com velocidade 27 vezes mais rápida que a do som.
Apesar de classificados como de rotina, tais exercícios demonstram inequívoca aproximação entre os aiatolás a potências hostis aos EUA.
Essa estratégia foi acelerada em junho, quando Trump autorizou um ataque ao solo do Irã após a derrubada de um drone americano. Ele, no entanto, suspendeu o ataque momentos antes do seu início.
“O Irã tem ambições de se tornar uma superpotência regional. E sabe que para isso terá que minar a influência do eixo formado por EUA e Arábia Saudita”, diz Michael Barak, do Instituto Internacional de Antiterrorismo, sediado em Tel Aviv.
No tabuleiro de interesses do Oriente Médio, mais um ano se inicia com pouca esperança de sensatez.