Governo separatista de Nagorno-Karabakh anuncia dissolução
Região é internacionalmente reconhecida como parte do Azerbaijão, mas os moradores, em maioria, se identificam como de etnia armênia
O presidente da autoproclamada República Armênia de Nagorno-Karabakh, Samvel Shahramanyan, anunciou nas primeiras horas desta quinta-feira, 28, que o governo autônomo será dissolvido a partir do dia 1° de janeiro de 2024. A região é internacionalmente reconhecida como parte do Azerbaijão, mas os moradores, em maioria, se identificam como de etnia armênia e, por conta de um movimento separatista, o governo autônomo foi instituído em 1994, com apoio da Armênia.
O anúncio da dissolução se dá uma semana depois de um ataque lançado pelo Azerbaijão para retomar controle do enclave. Segundo autoridades da Armênia, em comunicado divulgado nesta quinta-feira, quase 70.000 pessoas deixaram Nagorno-Karabakh em direção a solo armênio durante a semana, representando mais da metade da população local.
“A análise da situação mostra que nos próximos dias não haverá mais armênios em Nagorno-Karabakh”, disse a agência de notícias Interfax, citando o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan. “Este é um ato de limpeza étnica”.
O Azerbaijão nega essa acusação, dizendo que não está a forçar as pessoas a partir e que irá reintegrar pacificamente a região de Karabakh e garantir os direitos cívicos da etnia armênia. O Azerbaijão tem sido claro há muito tempo sobre a escolha que a população armênia local precisa fazer: ficar e aceitar a cidadania azerbaijana ou partir. A maioria da população optou por fugir em vez de se submeter ao governo de Baku.
Para além do ataque, a importante estrada de Lachin está bloqueada há 10 meses, o que causou uma grave escassez de alimentos, remédios e combustível em Karabakh. Embora o Azerbaijão tenha prometido respeitar os direitos dos habitantes, muitos residentes temiam represálias contra a minoria étnica armênia.
Na terça-feira, enquanto muitos fugiam pelas vias lotadas, uma explosão em um depósito de combustível deixou quase 200 mortos, além de quase 300 feridos.
Cerca de 2 mil forças de manutenção da paz russas deveriam monitorizar o cessar-fogo, mas o interesse de Moscou na Armênia diminuiu devido à guerra na Ucrânia. Além disso, a Rússia desaprova com a aparente inclinação do premiê Pashinyan em direção ao Ocidente. Recentemente, o governo armênio organizou exercícios militares conjuntos com os Estados Unidos.
Após receber críticas da Armênia, a Rússia negou que não tenha feito o suficiente para ajudar sua antiga aliada. Acrescentou, porém, que não poderia agir contra o Azerbaijão na região.
“Se a própria Armênia reconhece que Karabakh faz parte do Azerbaijão, o que podemos fazer?”, afirmou o presidente russo, Vladimir Putin.