Um novo relatório sobre o acordo de paz entre governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), publicado nesta sexta-feira (25), analisa o processo de paz e chama atenção para possíveis desdobramentos do sucesso ou fracasso do acordo para o Brasil.
O conflito com as guerrilhas no país já dura mais de 50 anos e provocou a morte de mais de 260.000 pessoas e o deslocamento forçado de outras 7 milhões de suas casas, segundo o documento do Instituto Igarapé, elaborado por agentes da Polícia Federal brasileira.
Após a assinatura do acordo de paz, em setembro de 2016, as Farc se transformaram em um partido político e, segundo a ONU, concluíram a entrega de suas armas. Uma das questões ainda preocupantes sobre o tratado, porém, são os dissidentes das FARC, que podem permanecer envolvidos com o crime organizado. A entrega de todo o armamento da guerrilha também é questionada por muitos.
Relativamente ao Brasil, preocupa a vinda de dissidentes das FARC para território brasileiro em busca de refúgio ou para se juntarem a organizações criminosas brasileiras, segundo o estudo.
Também segundo o documento, já existem relatos de que grupos como a Família do Norte (FDN), que atua principalmente no Estado do Amazonas, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), fundado em São Paulo, possuem alianças com novos grupos criminosos e mafiosos emergentes na Colômbia, envolvidos principalmente no tráfico internacional de cocaína.
Há preocupação também de que parte das armas das FARC tenha sido enviada para fora do país, mais especificamente para a Venezuela e para o Brasil, e negociadas no mercado negro.
Em recente reunião, os ministros da Defesa do Brasil e da Colômbia acordaram que os dois países vão intensificar sua cooperação bilateral, para impedir que narcotraficantes colombianos busquem esconderijo no lado brasileiro da fronteira.
Eleições
O país escolhe novo presidente no próximo domingo (27). O resultado será decisivo para o futuro do acordo com as Farc, que ainda precisa de regulamentação para a transição à legalidade.
“Um eventual insucesso do processo de paz com as Farc poderia impactar futuras iniciativas similares com outros grupos guerrilheiros, como o ELN. Regionalmente, isso poderia fomentar ainda mais a expansão transnacional das organizações criminosas colombianas, que, há décadas, se associaram com o crime organizado brasileiro, por exemplo”, analisam Guilherme Damasceno e Christian Vianna, autores do relatório.
Outra questão controversa sobre o acordo de paz é a da Justiça Especial, criada tratar os casos de ex-guerrilheiros com histórico criminal.
A prisão do ex-líder Jesús Santrich reascendeu essa discussão. Ele participou ativamente das negociações de paz, porém, foi preso em abril deste ano sob acusações de que continuou a traficar drogas e a cometer extorsões após a assinatura do acordo. O fato gerou novas acusações de impunidade e desrespeito ao tratado por parte das Farc e foi explorado especialmente pelo candidato à Presidência da direita, Iván Duque.
A implementação do tratado é uma das principais tarefas do próximo governo. Porém, os flagelos do narcotráfico, a corrupção, a pobreza e a desigualdade social dificultam a consolidação de uma paz ainda frágil na Colômbia.