Um navio operado por uma instituição de caridade que transportava 230 refugiados, resgatados do mar no Mediterrâneo, atracou no porto militar de Toulon, na França, depois de quase três semanas preso no mar, durante as quais o governo de extrema direita da Itália recusou auxílio.
O governo francês concordou na quinta-feira 10 em receber o barco, prometendo repreender a Itália por não respeitar a lei internacional de dar porto ao barco em águas italianas. Em uma discussão cada vez mais profunda sobre a migração, Paris disse que Roma foi irresponsável e desumana em não ajudar os refugiados.
O navio Ocean Viking, operado pela ONG europeia SOS Méditerranée, resgatou os migrantes no mar perto da costa da Líbia. Nesta sexta-feira, os 230 passageiros do barco, incluindo 57 crianças, chegaram ao porto francês em péssimas condições. Quatro passageiros que doentes foram retirados do barco, ainda no mar, de helicóptero na quinta-feira e transferidos para um hospital francês.
Aqueles elegíveis a pedidos de asilo podem ser transferidos para outros países europeus, nove dos quais – incluindo Alemanha, Luxemburgo, Bulgária e Portugal – se ofereceram para receber um total de dois terços dos passageiros em “solidariedade”. Quem a França julgar não elegível devem ser devolvidos aos seus países de origem, disse o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin.
A França nunca havia permitido que um navio de resgate transportando imigrantes desembarcasse em sua costa, mas disse que o fez desta vez porque a Itália recusou o acesso. Segundo Darmanin, os refugiados são responsabilidade da Itália sob as regras da União Europeia, e que a medida francesa para permitir que o navio atracasse foi “excepcional”, devido à grave situação das muitas pessoas doentes a bordo. Ele disse que os passageiros foram salvos no mar quando estavam “a poucas horas da morte”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, há dias tenta convencer as autoridades italianas a aceitar a lei internacional de que um barco em perigo pode ir ao porto mais próximo. A líder de extrema direita francesa, Marine Le Pen, afirmou que a França estava sendo “dramaticamente” branda com a imigração ao permitir que o barco atracasse, mas o ministro do Interior disse: “O que Marine Le Pen quer? Deixar morrer crianças naquele navio a poucos metros de nossos portos?”
Para Darmanin, a recusa da Itália em aceitar os imigrantes era incompreensível e haveria “graves consequências” para as relações bilaterais da Itália com a França e com a União Europeia como um todo. O impasse marca uma ruptura nas relações de Paris com a nova primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, líder dos Irmãos da Itália, um partido com raízes neofascistas.
Nesta sexta-feira, Meloni disse em entrevista coletiva que ficou “impressionada com a reação agressiva do governo francês, que do meu ponto de vista é incompreensível e injustificada”.
Como consequência da disputa, a França já decidiu congelar um plano para receber 3.500 requerentes de asilo atualmente na Itália, como parte de um acordo europeu de divisão de encargos.