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Físico brasileiro ganha o “Nobel da espiritualidade” nos EUA

Primeiro latino-americano a ganhar o Prêmio Templeton, cientista defende o 'humanocentrismo', mas acredita na presença de outros seres vivos no universo

Por Lúcia Guimarães 30 Maio 2019, 16h30

Com um discurso em defesa do “humanocentrismo”, o o físico e cosmologista brasileiro Marcelo Gleiser recebeu o Templeton Prize pelo conjunto de seu trabalho em cerimônia no Museu Metropolitano de Nova York nesta quinta-feira, 30.

O Prêmio Templeton é considerado o “Nobel da espiritualidade” e homenageia quem oferece “contribuição excepcional para a afirmação da dimensão espiritual da vida”. Entre os agraciados estão o Dalai Lama, a Madre Teresa de Calcutá,  o bispo sul-africano Desmond Tutu e o físico inglês Freeman Dyson.

Autor de vários bestsellers, Gleiser é o cientista brasileiro mais conhecido no exterior e um proponente, há muito tempo, da importância do diálogo interdisciplinar entre ciências, humanidades e estudos religiosos. Em 2016, ele foi um dos fundadores do Instituto de Engajamento Através das Disciplinas, para promover o diálogo entre acadêmicos e também na esfera pública. Há três décadas, dedica-se às áreas de Física e Astronomia e Filosofia Natural no Dartmouth College, no estado americano de Vermont.

A premiação que recebeu nesta quinta-feira foi criada em 1972 por Sir John Templeton, um banqueiro e filantropo britânico, morto em 2008. O objetivo é valorizar o que ele considerava uma negligência dos prêmios Nobel: ignorar a importância da religião e da espiritualidade. Gleiser é o primeiro latino-americano a receber a homenagem.

Marcelo Gleiser
O físico brasileiro Marcelo Gleiser recebe o prêmio Templeton no Metropolitan Museum of Art em Nova York (Alcir N. da Silva/VEJA)
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A VEJA, Gleiser disse que o prêmio lhe dá “humildade e vontade de fazer mais”. “Começo nova jornada, num patamar um pouco diferenciado. Tenho orgulho de ser o primeiro latino-americano escolhido para o Templeton.”

Em seu discurso, como premiado, o físico voltou-se à promoção de sua noção de “humanocentrismo”, como um antídoto para a “angústia de Copérnico“. O matemático e astrônomo italiano do período da Renascença, lembra Gleiser, dizia que “não somos nada na vastidão do universo”. Pelo contrário, acrescentou Gleiser, que acredita em formas de vida ainda não descobertas no cosmo.

“Nós somos importantes poque nos vemos como os únicos no Universo. Até o quanto sabemos, somos as únicas criaturas que buscam significado e existir além da mera sobrevivência.”

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Para Marcelo Gleiser, o humanocentrismo deve ser a base de um novo imperativo moral no século 21: transcender as disputas tribais e o extremismo político para nos vermos como uma espécie, aquela capaz de salvar o planeta Terra.

A cerimônia ocorreu num auditório do Museu Metropolitano e contou com uma apresentação da Orquestra Sinfônica da Dartmouth. Alternando com os discursos de premiação da noite, executou três peças pedidas pelo homenageado. Gleiser pedira o Adagietto da 5ª Sinfonia de Gustav Mahler “porque está perto do meu coração”. Também escolhei a Ária (Cantilena) da Bachiana Brasileira nº. 5, de Heitor Villa-Lobos, com solo do soprano Sasha Gutierrez , “porque traz para perto o Brasil”, , e o Molto Allegro da Sinfonia Nº 41 em Dó maior, de Wolfgang Amadeus Mozart.

O trabalho de Marcelo Gleiser foi homenageado nos discursos de Heather Templeton Dill,  presidente da John Templeton Foundation, e em seguida, de Marilyn Robinson, escritora, humanista e ganhadora do Prêmio Pulitzer de 2005 pelo romance Gilead. Robinson falou sobre a importância do equilíbrio entre ciência e metafísica e criticou o zelo do empirismo radical.

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O presidente do Dartmouth College, Philip J. Hanlon, destacou a influência de Gleiser na instituição e disse que o cientista brasileiro “entende dos limites da ciência e defende a complementaridade como fundamental para nossa existência fazer sentido. “Isso o levou a descobertas científicas.”

Hanlon lembrou ter Gleiser recentemente chamado sua atenção para um comentário do cientista Albert Einstein: “A coisa mais bela que podemos experimentar é o misterioso.”

“Por isso quero simplesmente agradecer ao Marcelo por nos mostrar que a Ciência é apenas um meio para compreendermos o mistério de quem somos”, completou Hanlon.

 

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