Pelo menos 12 filipinos foram crucificados nesta sexta-feira, 7, para reencenar a morte de Jesus em uma tradição local referente à Semana Santa. Rejeitada pela Igreja Católica, a penitência atrai cerca de 20 mil turistas e devotos para a vila agrícola de San Pedro Cutud, na província de Pampanga, e para mais duas aldeias próximas, segundo os organizadores.
Após uma pausa de três anos por causa da pandemia de Covid-19, as crucificações da vida real foram retomadas. Ruben Enaje, de 62 anos, participa da tradição pela 34ª vez. É a última vez, no entanto, que o pintor de placas planeja participar do evento por preocupações com a sua idade.
Retratado como um dos homens mais corajosos do mundo por parte da imprensa, Enaje usará a penitência para rezar pela erradicação do vírus da Covid-19 e pelo fim da guerra na Ucrânia. Ele disse, ainda, que o nervosismo faz parte da experiência pelas chances de “acabar morto”.
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“Quando estou deitado na cruz, meu corpo começa a sentir frio. Quando minhas mãos estão amarradas, apenas fecho os olhos e digo a mim mesmo: ‘Eu posso fazer isso. Eu posso fazer isso’”, relatou à Associated Press, alguns dias antes da crucificação.
A sua participação anual teve início em 1985, quando sobreviveu quase ileso a uma queda de um prédio de três andares. Depois de agradecer pelo que chama de “milagre”, Enaje passou a integrar as provações nos anos seguintes por familiares que se recuperaram de doenças graves. A presença recorrente o transformou em uma celebridade: o “Cristo” da encenação quaresmal na Via Sacra.
Antes da crucificação com pregos de aço inoxidável de 10 centímetros, os penitentes carregam cruzes de madeira nas costas por mais de um quilômetro sob o calor intenso. Eles, então, são recebidos por pessoas caracterizadas como centuriões romanos, responsáveis por conduzir a pena que dura 10 minutos.
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Outros adeptos, que caminham descalços no chão escaldante, batem nas suas costas nuas com varas de bambu afiadas e pedaços de madeira. Cacos de vidro foram, inclusive, utilizados na encenação do ano passado. O catolicismo filipino mistura tradições da igreja com a superstição local e a autoflagelação é apoiada por autoridades religiosas do país.
Robert Reyes, padre católico nas Filipinas, é uma voz contrária à tradição regional. De acordo com o ativista de direitos humanos, a crucificação reflete a falha da Igreja em educar seus fiéis, deixando-os à própria sorte quando se deparam com doenças ou adversidades. “A questão é onde estávamos nós, pessoas da Igreja, quando eles começaram a fazer isso?”, questionou.
Com décadas de existência, a penitência atrai turistas para a aldeia pobre de San Pedro Cutud. Os aldeões aproveitam a tradição para lucrar com a venda de água engarrafada, chapéus, comida e artigos religiosos.