Ex-assessora diz que Trump reconhecia derrota em 2020 a aliados próximos
Em novo livro, Cassidy Hutchinson conta que o governo simulava uma organização criminosa baseada na 'lealdade inquestionável'
A ex-assessora da Casa Branca, Cassidy Hutchinson, alega em seu novo livro, intitulado “Enough“, que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tinha pleno conhecimento da derrota nas eleições de 2020, que elegeram o democrata Joe Biden. Em junho de 2022, ela prestou um impressionante testemunho à Câmara dos Deputados sobre a inação de Trump frente às advertências de que os planos para 6 de janeiro, quando seus fiéis seguidores invadiram o Capitólio, tinham potencial violento.
A carreira ascendente de Hutchinson teve início quando foi aceita como estagiária no Capitólio, no início da administração Trump. Nos quatro anos seguintes, passou a ocupar a posição de assessora indispensável do chefe de gabinete, Mark Meadows. Ela afirma não ter reconhecido as atitudes controversas do ex-presidente até o final do governo, quando presenciou uma queima de documentos e conversas criminosas que buscavam reverter o resultado das votações.
No livro, ela afirma que hesitava em culpar Trump por ter dificuldade em admitir o envolvimento de um presidente no esquema. No entanto, sentia que “as coisas poderiam sair do controle e rápido” porque o republicano estava rodeado “de pessoas que alimentavam os seus comportamentos mais impulsivos”.
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A ex-funcionária conta que o governo simulava uma organização criminosa que tinha como principal pilar a “lealdade inquestionável”. Ela afirma no livro que, em um comício de campanha em 2020, Hutchinson disse levaria um tiro por Trump e “faria qualquer coisa” pela eleição do republicano.
Com a divulgação do resultado das eleições, o diretor da Inteligência Nacional, John Ratcliffe, e o presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, teriam elevado os alertas sobre a imprevisibilidade de Trump, que se recusava a aceitar a derrota. Ambos culpavam Meadows pelo comportamento errático do então presidente.
“Não quero que as pessoas saibam que perdemos, Mark. Isso é vergonhoso. Dê um jeito”, teria dito Trump ao seu chefe de gabinete após ser derrotado nas urnas.
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Em relação à invasão ao Capitólio, no mesmo dia em que Trump tinha um comício marcado, Hutchinson destaca no livro que o republicano estava ciente de que seus apoiadores portavam armas e que pensava que ele faria algo para impedir de que os protestos se tornassem violentos, justamente porque tinha conhecimento de tudo. Com a eclosão da violência, a ex-assessora disse que se preparou para uma tentativa de golpe.
Na mesma ocasião, ela alega ter sido assediada por Rudy Giuliani, ex-advogado de Trump, que colocou a mão dentro de sua saia. Apesar do clima tenso, Cassidy optou por continuar no governo até a posse de Biden. Sua permanência tinha como finalidade a manutenção de protocolos nos últimos dias de governo. Hutchinson revela que, nessa época, viu Meadows entregar documentos sigilosos a funcionários de meios de comunicação de direita do país.
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As declarações chocantes de Hutchinson na obra mostram, ainda, as consequências do negacionismo da pandemia de Covid-19 para membros do Partido Republicano. Após um evento fechado e sem máscaras em Tulsa, Oklahoma, o candidato Herman Cain contraiu o vírus e morreu. Em uma troca de mensagens com a ex-assessora, Meadows teria dito: “Matamos Herman Cain”, tendo solicitado o número da viúva em seguida. As informações foram negadas pelo porta-voz de Meadows.