EUA retomam sanções econômicas contra o Irã
Teerã ameaça bloquear Estreito de Hormuz, por onde passa um terço dos carregamentos de petróleo do mundo, e diz confiar na Rússia e na China
A Casa Branca restaurou nesta segunda-feira (6) as sanções econômicas contra o Irã, suspensas ao longo dos três anos de participação americana no Acordo Nuclear com Teerã, de 2015. A iniciativa deriva da decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retirar seu país do acordo e de impor pressão econômica e financeira sobre o regime iraniano.
O governo americano alega que o acordo não foi suficiente para demolir o programa nuclear militar e o desenvolvimento de mísseis pelo Irã e tampouco abrange as “agressões regionais” de Teerã e seu apoio a grupos terroristas, conforme destacado no decreto assinado hoje por Trump.
Em comunicado, Trump descreveu o acordo nuclear de 2015 como “horrível, apenas para um lado” e o criticou por ter “falhado em alcançar o objetivo fundamental de bloquear os caminhos para uma bomba atômica iraniana” e por ter “atirado um monte de dinheiro para ditaduras assassinas que continuam a espalhar o derramamento de sangue, a violência e o caos.”
Segundo o presidente americano, o Irã agora está diante de uma escolha. “Mudar seu comportamento ameaçador e desestabilizador e se reintegrar à economia mundial ou continuar no caminho do isolamento econômico”, mencionou a nota. Trump resolveu não postar mensagens no Twitter sobre o tema até o momento.
De acordo com o decreto presidencial, a partir de amanhã (7), começam a valer o bloqueio das propriedades nos Estados Unidos de empresas e pessoas – inclusive de nacionalidade americana – que tenham participado ou facilitado as operações de compra de títulos do Tesouro, dólares, certificados de ouro e de prata pelo governo do Irã.
A partir de 5 de novembro, será adotada a segunda rodada de sanções, que abrangerão as pessoas e empresas que deram apoio material para o Banco Central iraniano e as estatais petroleiras National Iranian Oil Company (NIOC) e Naftiran Intertrade Company (Nico). As sanções recairão também sobre qualquer pessoa ou empresa que tenha contribuído com os setores de energia, navegação, construção naval, operação portuária e automotivo do Irã.
Nesses casos, as empresas e pessoas envolvidas não poderão fazer negócios com empresas e cidadãos americanos. A medida implicará diretamente empresas europeias com negócios e investimentos em curso no Irã. Nos últimos meses, França, Alemanha e Reino Unido tentaram demover Trump a retirar os Estados Unidos do acordo e, depois, a evitar a adoção dessa segunda rodada de sanções. Não houve sucesso nas duas empreitadas.
“Nós estamos determinados a proteger os operadores econômicos europeus comprometidos com a legitimidade de seus negócios com o Irã”, afirmaram os três países em um comunicado conjunto divulgado hoje (6). “O acordo está funcionando e alcançando seu objetivo, qual seja, de assegurar que o programa iraniano continua exclusivamente pacífico.”
Os três países europeus, a Rússia e a China são os signatários remanescentes do acordo de 2015.
Retaliação
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, reagiu à iniciativa americana com a ameaça de fechar o Estreito de Hormuz, por onde passa um terço da produção de petróleo mundial, em resposta ao prejuízo das sanções às exportações de petróleo. A medida provocaria uma nova crise no setor, com inevitável alta nos preços da commodity.
Rouhani afirmou que o Irã ainda pode confiar na China e na Rússia para ajudar seus setores petrolífero e bancário. “Nosso governo é poderoso e é capaz de abrir o mercado de moedas estrangeiras no mesmo dia”, afirmou Rouhani.
O presidente iraniano disse que não tem “pré-condições” para negociar com americanos, “se o governo dos EUA estiver pronto para negociar o pagamento de indenização [por intervenção] à nação iraniana de 1953 até agora”.
A incerteza causada pelas sanções americanas provou-se devastadora para a economia iraniana, já enfraquecida por décadas de sanções. Protestos têm eclodido no país por causa do desemprego e da inflação. Mas, os de hoje foram atribuídos por Rouhani à decisão dos Estados Unidos.
(Com AP)