Cidadãos e imigrantes legais dos Estados Unidos estão presos em campos de reeducação de Xinjiang, na China, denunciou o Departamento de Estado americano à rede de televisão CNN. Em um pronunciamento na quinta-feira 28, o embaixador dos Estados Unidos para Liberdade Religiosa Internacional, Sam Brownback, afirmou ter recebido centenas de casos. O mais recente se referia a um homem, imigrante legal americano, que está desaparecido desde que voltou para Xinjiang, onde morava.
“Ele tinha um visto válido daqui e viajou para Xinjiang depois de visitar seu filho na Califórnia. O homem não deu mais notícias desde então. Seu filho está muito preocupado sobre como ele está sendo tratado, já que o pai tem várias doenças crônicas. Ele é um intelectual de 75 anos”, informou o embaixador.
Os Estados Unidos denunciam ativamente o encarceramento arbitrário de minorias muçulmanas em campos de detenção na China. Os espaços de “reeducação”, como são chamados pelo governo chinês, foram regularizados em 2018. Ainda no ano passado, o relatório de direitos humanos do Departamento de Estado americano estimou que entre “800.000 e 2 milhões de uigures, cazaques e membros de outros grupos islâmicos estão presos”, com o “objetivo de apagar identidades étnicas e religiosas.”
Brownsback informou as autoridades chinesas sobre a presença de americanos nesses campos há algumas semanas, durante um encontro na Organização das Nações Unidas (ONU). Em resposta, nesta sexta-feira, 29, o Ministério de Relações Exteriores da China acusou o governo dos Estados Unidos de forjar uma situação para interferir na política chinesa.
“Condenamos esta tentativa dos Estados Unidos de usar questões sobre Xinjiang para interferir nas relações internas da China”, declarou o porta-voz do chanceler, Geng Shuang.
Shuang ainda argumentou que os campos “são centros de treinamento vocacional e educacional com propósitos antiterrorismo e radicalização” e disse não ter informações sobre americanos detidos nos campos.
Torturas e isolamento
Segundo relatos de ex-prisioneiros reproduzidos no relatório do Departamento de Estado, os seguranças dos campos torturaram, abusaram e mataram alguns dos detentos. Os antigos encarcerados ainda disseram que foram vítimas de contínuas sessões de “lavagem cerebral”, que incluíam aulas sobre o Partido Comunista da China.
“Este hábito não está mais restrito apenas aos campos. Vilas inteiras estão sendo isoladas e seus habitantes não têm mais o direito de ir e vir. A situação continua e está piorando em algumas regiões”, declarou o embaixador Brownback. “Nós estamos apenas advogando contra estas ações do governo chinês.”
Na noite de quinta 28, o governo dos Estados Unidos reiterou seu alerta para viajantes do país que estão indo para a China, destacando os perigos na região de Xinjiang.
“Estamos prontos para oferecer toda a assistência consular necessária para cidadãos dos Estados Unidos no exterior”, declarou um porta-voz do Departamento de Estado. “Mas é importante dizer que a China não reconhece dupla nacionalidade. O que significa que eles podem impedir que nossa embaixada preste seus serviços em alguns casos. Cidadãos americanos de ascendência chinesa podem ser alvo de ainda mais assédio moral.”
Em uma entrevista no início de março, o secretário de Estado do governo americano, Mike Pompeo, também denunciara as violações de direitos humanos na China. “Este é um dos piores países em relação aos direitos humanos desde os anos 1930”, declarou. Pompeo se encontrou com um grupo de refugiados da minoria uigur no início desta semana.