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Ernesto Araújo para CNN: ‘A Amazônia não está queimando’

Chanceler diz ser mentira que os governos anteriores fizeram mais pela floresta, e admite que Brasil tem responsabilidade menor pelo aquecimento global

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 4 set 2019, 20h23 - Publicado em 4 set 2019, 20h00

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, declarou nesta quarta-feira, 4, que a “Amazônia não está queimando” e que a polêmica sobre os incêndios florestais começou a partir de “falsas premissas” e por razões políticas. Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, o chanceler culpou os governos anteriores, sobretudo o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo desmatamento da região.

“Primeiro de tudo, a Amazônia não está queimando. Tivemos incêndio um pouquinho maior do que no ano passado e um pouco menor do que a média dos últimos 20 anos. A discussão começou com falsas premissas de que tivemos incêndios sem precedentes neste ano, o que não é verdade”, afirmou.

“Não é verdade que os governos anteriores fizeram mais. Eles venderam mais do que fizeram, como o combate aos incêndios na estação de seca. É só olhar os dados e as imagens”, exaltou-se.

Em 18 minutos de entrevista, o ministro não teve o cuidado de diminuir a rusga criada pelo presidente Jair Bolsonaro com a França. Logo no início, mencionou que o líder francês, Emmanuel Macron, não conversara com o governo brasileiro antes de postar um tuíte sobre os incêndios, com foto de dez anos atrás, e de ter designado a Amazônia como “nossa casa”. “Interpretamos como uma interferência na nossa soberania”, afirmou.

Araújo tentou ser didático sobre a questão, mas não deixou de ser apertado por Amanpour, que dispunha de dados no Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) sobre os incêndios, além de declarações de uma liderança indígena sobre o descaso do atual governo. O chanceler alegou haver focos de incêndios naturais nesta época de seca e outros com motivação criminosa.

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Mas reforçou a tese de que “pessoas se coordenaram pelo WhatsApp para colocar fogo na floresta e fazer com o que governo parecesse mau”, em uma referência ao chamado dia do fogo – 10 de agosto passado -, quando mais de 300 focos foram registrados na região de Novo Progresso (PA). Conforme informou a Folha do Progresso, que denunciou o “dia do fogo” , as conversas teriam ocorrido entre fazendeiros locais, que pretendiam “mostrar ao presidente (Jair Bolsonaro) que querem trabalhar, e o único jeito é derrubando” a floresta.

Questionado sobre a demissão do então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, por causa da divulgação dos dados sobre os incêndios de julho de 2019, Araújo apostou no discurso do Ministério do Meio Ambiente de que o número referia-se ao acumulado em 12 meses terminados em julho. Amanpour não desistiu de valer-se do dado oficial do Inpe, que mostrava o aumento de 85% nos focos de incêndio de janeiro a agosto, na comparação com igual período de 2018.

“Ele mentiu”, disse o ministro. Foi uma enorme distorção do dado científico o apresentado ao público. Por isso, foi demitido”, completou, com o cuidado de fugir de parte da mesma pergunta sobre o corte de 23 milhões de dólares no orçamento de fiscalização do Ibama.

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Na entrevista, Araújo usou o termo “soberania” apenas uma única vez. Provocado por Amanpour sobre o fato de a Amazônia ser um “enorme domínio público”, o chanceler apenas frisou que o governo tem “meios de cuidar” da  parcela presente no território brasileiro. O ministro também fugiu de seus raciocínios teóricos e defendeu o respeito à pesquisa científica ao ser perguntado sobre a contribuição dos incêndios na Amazônia para o aquecimento global.

“Sobre mudança climática, temos de olhar para o fato conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC)“, alegou. “Somos parte da questão, como qualquer outro país. Mas o Brasil é responsável por menos de 3% das emissões globais, e dois-terços disso vem do desmatamento”, acrescentou Araújo, com o cuidado de mencionar que a União Europeia responde por cerca de 40% e de omitir as emissões bem mais volumosas dos Estados Unidos, o parceiro preferencial do governo Bolsonaro, e da China.

Araújo ainda defendeu o desenvolvimento sustentável da Amazônia, mas ao ser perguntado sobre projetos concretos do governo Bolsonaro, mencionou apenas algumas possíveis áreas de ação, como a pesquisa de biodiversidade e o ecoturismo. Também disse que o governo conversa com lideranças indígenas sobre a possibilidade de exploração de recursos naturais em suas terras, em parceria com empresas nacionais e estrangeiras.

 

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