Ernesto Araújo: ‘Dizem que somos trumpistas, o que é um pouco verdade’
Chanceler diz ter perspectiva muito serena de melhoria da reação do Brasil os países árabe; empresários temem represálias
O chanceler Ernesto Araújo esforçou-se na manhã desta segunda-feira, 8, para explicar à cúpula da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que a política externa conduzida por ele não significa alinhamento automático com a de Washington e não trará prejuízos nas relações com o mundo árabe/muçulmano. A tentativa, entretanto, esbarrou no seu próprio discurso.
Ao expor aos conselheiros da Fiesp, Araújo reconheceu haver uma aproximação com a agenda do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a quem novamente mencionou “admirar”, e se definiu como um seguidor do ex-presidente americano Ronald Reagan, que adotou uma política econômica ultraliberal que, entre outros, elevou a pobreza e aprofundou a desigualdade social no país.
“Dizem que somos trumpistas, o que é um pouco verdade. Admiro muito o presidente Trump e as mudanças que ele trouxe aos Estados Unidos”, afirmou Araújo. “Admiro muito os princípios de patriotismo e abertura econômica que Reagan introduziu”, disse.
Araújo considerou as críticas à visita do presidente Jair Bolsonaro a Trump, há duas semanas, como frutos do “antiamericanismo, um espinho encravado na nossa carne”. “O presidente e eu fomos lá e arrancamos este espinho. E isso dói. Mas quando cicatrizar, as pessoas vão ver que era necessário arrancar”, disse o ministro.
A visita aos Estados Unidos foi marcada pela assinatura do acordo de salvaguardas para o uso da Base de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, e por outros acertos de cooperação nas áreas de segurança, de tecnologia espacial e de biodiversidade. O próprio Araújo foi impedido de estar presente no encontro reservado do presidente com Trump no Salão Oval e, em seu lugar, ingressou o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ).
À imprensa, o chanceler afirmou que a aproximação do Brasil com Israel não tem gerado impactos no comércio exterior. Empresários, entidades e organizações árabes consideraram a visita de Bolsonaro a Israel, na semana passado, como um elemento desnecessário de atrito com os países árabes e muçulmanos, que se tornaram importante mercado para os produtos brasileiros.
“Temos uma perspectiva muito serena de melhoria de relacionamento com os países árabes”, rebateu o chanceler, argumentando haver aproximação com a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
Embora tenha anunciado em Israel apenas a instalação de um escritório comercial, de ciência e tecnologia e de inovação em Jerusalém, Bolsonaro não chegou a enterrar sua promessa de transferir para a cidade sagrada a embaixada brasileira, mantida em Tel Aviv. A iniciativa equivaleria ao reconhecimento da soberania de Israel sobre Jerusalém, cuja parcela oriental é reivindicada pelos palestinos.
O recuo parcial, com o anúncio apenas do escritório, provocou reações da Autoridade Nacional Palestina e do Hamas. Mas um movimento mais incisivo tenderá a comprometer um comércio de mais de 11 bilhões de dólares no ano passado com o mundo muçulmano.
(Com Estadão Conteúdo)