Nem mesmo a inflação disparada e um devastador terremoto, um dos maiores da história da Turquia, foram suficientes para derrubar Recep Tayyip Erdogan, o presidente cuja atuação na tragédia, envolta em denúncias de corrupção, foi considerada pífia diante da extensão do drama humano. Aos 69 anos, ele conquistou no domingo (28) mais um mandato, estendendo sua temporada no poder até 2028 — o governante mais longevo do país, bem à frente do fundador do Estado turco moderno, Mustafa Kemal Ataturk. Ele terá o leme na mão por quase três décadas. O pleito de agora, porém, mostra que a vida do autocrata, que a cada dia avança com garras mais afiadas sobre as instituições, prendendo opositores e tosando os direitos da comunidade LGBTQIA+, não será fácil. Pela primeira vez em sua bem-sucedida estrada política, ele enfrentou um segundo turno com uma oposição que conseguiu amealhar 47,9% dos votos, mesmo com a imprensa oficial abertamente o apoiando e com as benesses em série que distribuiu à população. “Não fomos apenas nós que ganhamos, foi a Turquia inteira”, bradou, bem ao seu estilo, a uma multidão na capital, Ancara. Observada com atenção pelas potências ocidentais, que torciam por um nome mais afinado com os pilares democráticos e menos próximo ao Kremlin de Vladimir Putin, a eleição de Erdogan é uma infeliz vitória do populismo que vem se espalhando pelo mundo.
Publicado em VEJA de 7 de junho de 2023, edição nº 2844