As cenas foram exóticas e lamentáveis. Era o triste retrato da crise que tomou conta do Equador, motivada pela violência extrema de facções criminosas que disputam o controle de extensos territórios e pela perda de apoio político do atual presidente, Guillermo Lasso. No domingo 20, dia em que 13,4 milhões de pessoas foram às urnas para o primeiro turno da eleição presidencial, coletes à prova de bala deram a tônica, como se fosse impossível fazer valer a cidadania sem medo. Depois que o candidato Fernando Villavicencio foi assassinado, não havia mesmo outra saída. Postulantes ao cargo, como o advogado e defensor de direitos humanos Yaku Pérez (no centro) apareceram protegidos. A disputa final, prevista para 15 de outubro, reunirá Luisa González, candidata de esquerda, ligada ao ex-presidente de esquerda Rafael Corrêa, que obteve a preferência de um terço do eleitorado, e o bilionário Daniel Noboa Azin, da corrente liberal, que amealhou 23% dos votos. Seja quem for o vencedor, a nova (ou novo) presidente terá a difícil tarefa de reerguer a ameaçada democracia equatoriana — que parece se salvar, por ora, graças ao Kevlar, cinco vezes mais resistente que o aço, que defende os personagens de um país de veias abertas.
Publicado em VEJA de 25 de agosto de 2023, edição nº 2856