Em vídeo, Assad dirige calmo e feliz em meio à guerra civil
Ditador sírio diz que êxodo de pessoas saindo de Ghuta Oriental para áreas controladas pelo governo comprovam que ele ainda é popular
Calmo e confiante, o presidente sírio Bashar Assad entra em uma grande rotatória em Damasco, capital do país, antes de continuar dirigindo rumo à Ghuta Oriental, onde suas forças armadas lutam contra rebeldes em uma das mais sangrentas batalhas recentes no país.
O trânsito e os pedestres circulando do lado de fora do Honda sedan, na movimentada praça Umayyad, parecem não perceber quem é o motorista do veículo. A viagem –sem grande pompa– foi capturada em vídeos feitos dentro do carro, os quais foram postados pela assessoria da Presidência online entre domingo e segunda.
As imagens mostram Assad calmo, seguro de si e até feliz. Suas forças de segurança parecem cada vez mais próximas de conquistar uma das mais importantes vitórias na guerra civil que arrasa a Síria há sete anos: Ghuta Oriental, nos arredores da capital, é o último grande bastião rebelde, onde moradores protestaram nas ruas contra as décadas do regime ditatorial da família Assad no país ainda nos primórdios da Primavera Árabe em 2011.
Conforme dirige, Assad, usando óculos de sol esportivos, vai narrando a rota para a câmera e dizendo o que pensa sobre a batalha na região para onde ruma. Ele diz, parecendo realmente acreditar em suas palavras, que as imagens de milhares de civis saindo de Ghuta Oriental em um corredor operado por autoridades sírias comprovam que seu governo ainda é popular no país.
Uma picape branca que aparece em diversos dos vídeos parece ser a única acompanhante do ditador.
Antes da guerra, Assad era conhecido por dirigir seu próprio carro pelas ruas de Damasco e de Aleppo (a maior cidade do país), e por ir jantar fora frequentemente com sua esposa.
Durante os sete anos de guerra, o presidente manteve uma máquina sofisticada de propaganda contínua nas redes sociais.
Metade de Aleppo —outrora um vibrante centro comercial e cultural com quase 4.000 anos de história— agora está em ruínas: as forças leais a Assad, com apoio implacável da Rússia e do Irã, destruíram toda a zona leste da cidade em seu afã por expulsar os rebeldes em 2016. Milhares de civis fugiram do conflito sem poder retornar.
O cenário se repete agora em Ghuta Oriental, onde forças do governo realizam um brutal assalto aéreo e terrestre contra um amontoado de pequenos subúrbios que resistiram à volta do domínio de Assad ao longo de toda a guerra.
Quase 1.500 civis morreram só no último mês em ataques aéreos e com artilharia pesada — o governo já controla 80% da área que a oposição dominava em fevereiro.
Dezenas de milhares de civis fugiram para áreas controladas pelo regime sírio, muito mais devido ao avanço do exército e o rastro de sangue e destruição vindo em seu encalço do que pela auto-proclamada popularidade professada por Assad nos vídeos.
Não se sabe como o governo vai abrigar todas essas pessoas. Tampouco se sabe qual será o destino de milhares de homens presos sob suspeita de deserção (por não se apresentarem ao alistamento militar obrigatório) ou de haverem “lutado pelo inimigo”.
“O que realmente dói, apesar do orgulho e da alegria desta visita, é ver pessoas forçadas a abandonar seus lares e a viver em dificuldades por culpa da guerra e dos terroristas”, diz Assad em um dos vídeos ao entrar com o automóvel em Ghuta Oriental. Enquanto isso, do lado de fora da janela, a paisagem rural lenta e continuamente vai se transformando, indo, gradualmente, do bucólico a cenas de caos, de destruição e de ruína — os matizes que mais comumente passamos a associar à Síria atual.
(Com Associated Press)