O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou pelo Twitter nesta quinta-feira (29) o cancelamento de seu encontro com seu colega russo, Vladimir Putin, em paralelo à reunião de cúpula do G20, em Buenos Aires. A decisão do republicano deveu-se ao atual conflito entre Moscou e Kiev na região da Crimeia.
“Baseado no fato de que os navios e marinheiros não retornaram da Rússia para a Ucrânia, decidi que seria melhor para todas as partes envolvidas cancelar minha reunião agendada anteriormente na Argentina com o presidente Vladimir Putin”, escreveu.
O cancelamento pegou de surpresa o próprio Kremlin. Assessores de Putin haviam divulgado horas antes um documento confirmando o encontro no sábado (1º) às 14h30 GMT.
No último domingo (25), a Guarda Costeira russa interceptou três navios da Marinha ucraniana no Mar Negro, quando as embarcações tentavam entrar no estreito de Kerch para chegar ao Mar de Azov. Trata-se de uma rota marítima crucial para as exportações de cereais e aço produzidos no leste da Ucrânia.
A guarda-costeira russa, vinculada aos serviços de segurança (FSB), acusou os ucranianos de terem entrado ilegalmente em águas territoriais russas e capturou 24 fuzileiros navais a bordo dos navios.
A Rússia classificou o incidente de “provocação”, enquanto a Ucrânia denunciou o “ato de agressão” e pediu a libertação de seus fuzileiros e o retorno de seus navios.
Em resposta aos incidentes, a Ucrânia instaurou a lei marcial nas regiões fronteiriças e do litoral por 30 dias. Também pediu aos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) o envio de navios de guerra ao Mar de Azov para apoiar seu país diante da ameaça da Rússia.
Trump já havia sinalizado que poderia cancelar a reunião com Putin depois do incidente marítimo, mas não confirmara oficialmente até esta quinta-feira.
A reunião entre Moscou e Washington cobriria questões de segurança, controle de armas e conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia, segundo o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton.
As relações entre as duas nações tornaram-se as mais tensas desde o fim da Guerra Fria. Durante o governo do presidente Barack Obama, os Estados Unidos impuseram sanções à Rússia devido à anexação da Crimeia, que pertencia à Ucrânia, em 2014.
Agências de inteligência americana também acusaram Moscou de interferir na eleição de 2016, uma alegação que o Kremlin nega repetidamente. Um procurador especial americano está investigando se a campanha de Trump conspirou com os russos em favor de sua eleição, algo que o presidente americano nega ter acontecido.
‘Culpa de Putin’
Em resposta ao aumento da tensão entre Ucrânia e Rússia, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, afirmou que o atual conflito é “inteiramente culpa” de Vladimir Putin. Depois de encontro com o primeiro-ministro ucraniano Volodymyr Groysman em Berlim, Merkel acusou Moscou de restringir o acesso ao Mar de Azov com a ponte que levantou para unir a península da Crimeia à Rússia.
Para a chanceler alemã, as atitudes de Moscou violam um acordo de 2003 que garante o livre movimento na área.
“Eu quero os soldados libertados”, afirmou Merkel sobre os marinheiros ucranianos presos, para acrescentar em seguida que debaterá a questão com Putin durante a reunião de cúpula do G20. “O lado ucraniano pediu que nós agíssemos de maneira sábia. Não há solução militar para esses problemas – temos de enfatizar isso”, completou.
A região é cenário de um violento conflito desde que Moscou anexou a península ao seu território, em 2014. As tensões aumentaram, contudo, desde a abertura da ponte, quando os russos redobraram as inspeções dos navios ucranianos. A medida foi considerada por Kiev como um bloqueio, de fato, dos seus portos na região.