Em protestos, australianos pedem a renúncia de primeiro-ministro
Quatro meses de queimadas provocaram 28 mortes; premiê Morrison é acusado de demorar a responder à crise
![](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/2020-01-10t105109z_1000276144_rc2yce9clp39_rtrmadp_3_australia-bushfires-protests.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
Indignadas como os piores incêndios florestais da Austrália, cerca de 30.000 pessoas foram às ruas nesta sexta-feira, 10, para pedir a renúncia do primeiro-ministro conservador, Scott Morrison, acusado de demorar a dar uma resposta à atual crise ambiental. Iniciados em setembro, os incêndios mataram 28 pessoas até esta sexta-feira e devastaram 100.000 quilômetros quadrados de floresta do país, colocando em risco populações rurais e urbanas e a biodiversidade do país.
Reunidos nas principais cidades do país – Melbourne, Sidney, Brisbane e Perth –, os manifestantes atenderam as convocações de grupos ativistas, entre os quais o australiano Estudantes pelo Clima e o britânico Extinction Rebellion.
“Estamos protestando porque esses incêndios não têm precedentes, estão queimando desde setembro, e precisamos de ações urgentes contra isso e a crise climática”, disse Anneke De Manuel, uma das organizadoras do protesto.
Além da renúncia de Morrison, os manifestantes pedem que o governo pare com a exploração de carvão mineral e outros combustíveis fósseis e que invista mais na substituição dessa indústria por tecnologias de energias renováveis.
![Protesters demonstrate over Australia’s bushfires crisis, in London](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/2020-01-10t123830z_1861773824_rc20de9a25vf_rtrmadp_3_australia-bushfires-protests.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
O carvão mineral é o principal produto de exportação da Austrália, terceiro maior fornecedor desse minério mundo afora. Por causa do uso doméstico dessa fonte de energia, o país figura entre os maiores poluidores do planeta e como responsável por 1,3% das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.
![Uma família australiana que abandonou sua moradia devido os incêndios descansa em um campo para deslocados de casa - 31/12/2019 Uma família australiana que abandonou sua moradia devido os incêndios descansa em um campo para deslocados de casa - 31/12/2019](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/000_1nd4yy.jpg?quality=90&strip=info&w=919&w=636)
![As geleiras da Nova Zelândia amanheceram "caramelizadas" devido a fuligem proveniente dos incêndios florestais na Austrália - 01/01/2020 As geleiras da Nova Zelândia amanheceram "caramelizadas" devido a fuligem proveniente dos incêndios florestais na Austrália - 01/01/2020](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/2020-01-02t000000z_1534803221_rc2m7e9d9wbv_rtrmadp_3_australia-bushfires.jpg?quality=90&strip=info&w=817&w=636)
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![A cor do céu se transforma em vermelho na cidade de Mallacoota, Austrália, devido aos incêndios - 31/12/2019 A cor do céu se transforma em vermelho na cidade de Mallacoota, Austrália, devido aos incêndios - 31/12/2019](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/2019-12-31t000000z_919106641_rc216e9yl2q9_rtrmadp_3_australia-bushfires.jpg?quality=90&strip=info&w=817&w=636)
![A fumaça dos incêndios sobre o céu da cidade de Mallacota, no Estado de Vitória, Austrália - 31/12/2019 A fumaça dos incêndios sobre o céu da cidade de Mallacota, no Estado de Vitória, Austrália - 31/12/2019](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/2020-01-01t014546z_1965571166_rc2p6e98qxlf_rtrmadp_3_australia-bushfires.jpg?quality=90&strip=info&w=818&w=636)
Morrison é um ávido defensor da indústria do carvão. Enquanto ministro da Fazenda no governo anterior, chegou a levar ao Parlamento um pedaço de carvão para defender o setor como uma das maiores fontes de empregos do país. Eleito primeiro-ministro em maio de 2019, seu governo conservador aprovou a construção de uma polêmica mina de carvão no Estado de Queensland, seu principal curral eleitoral.
O primeiro-ministro se enquadra entre os que não acreditam no aquecimento global. Defende sua política ambiental ao dizer que os incêndios florestais, a mudança climática e a industria de carvão não têm nenhuma relação direta. Mas, ao longo do século XX, a temperatura média na Austrália subiu cerca de 1° Celsius, segundo o Escritório de Meteorologia do governo, enquanto o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organização que reúne cientistas do mundo todo, diz que é extremamente provável que a concentração de gases estufa na atmosfera tenha sido a responsável pelo aumento na temperatura do país.
O governante também afirma que o país vem diminuindo suas emissões de carbono ao longo dos anos. Mas, segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE), a Austrália aumentou em 1,8% a emissão dos gases de efeito estufa de 2013 a 2018, quando totalizaram 383 milhões de toneladas.
As relações públicas do primeiro-ministro tampouco o ajudam. No dia 15 de dezembro, os australianos acordaram com a notícia de que Morrison estava de férias no Havaí. Ele antecipou seu retorno no dia 19, quando dois bombeiros morreram combatendo as chamas.