Em pleno inverno, uma Europa sem neve se prepara para a seca
O clima quente e sem precipitação, incomum para a época do ano, está encolhendo rios e lagos; especialistas alertam sobre possível crise hídrica
Uma onda de calor durante o inverno europeu está fazendo com que rios e lagos de todo o continente cheguem a níveis alarmantemente baixos. De mãos dadas com o clima quente incomum, a Europa registrou baixas recordes de chuva e falta de neve.
A seca e o encolhimento de rios e lagos europeus são normalmente associados ao verão, mas cenas semelhantes estão pipocando mesmo na estação fria em regiões como o centro e o sudoeste da França, o norte da Espanha e o norte da Itália.
Depois de a Europa ter sido impactada por secas no verão passado, especialistas se preocupam com a mudança em seus padrões climáticos e muitos acreditam que isso seja efeito do aquecimento global.
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Outra preocupação dos especialistas é como essa seca pode afetar o abastecimento de água no continente. Um estudo publicado em janeiro pela Universidade de Tecnologia Graz, na Áustria, mostrou que a situação hídrica na Europa é “muito precária”.
Na Espanha, o governo aprovou planos para investir cerca de US$ 24 bilhões (R$ 124 bilhões) em gestão de água, incluindo medidas para melhorar o saneamento e tratamento e modernizar a irrigação.
A média de água disponível no país diminuiu 12% desde 1980 e tem previsões para cair 40% até 2050. O clima seco espanhol está começando até mesmo a ameaçar o premiado jamón ibérico bellota do país, já que o aumento das temperaturas afeta as comidas dos porcos.
“Não podemos garantir o abastecimento de água para beber ou para usos econômicos contando exclusivamente com a chuva”, disse recentemente Teresa Ribera, ministra da Transição Ecológica da Espanha.
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Já a França, que está passando pelo maior período sem chuva em 60 anos, pode impor restrições de água em breve. O país registrou 32 dias consecutivos sem chuva entre 21 de janeiro e 21 de fevereiro, o intervalo mais longo desde o início dos registros, em 1959.
Rios e lagos estão diminuindo e o solo do país está mais seco do que o normal, com índices de umidade que só eram esperados para o mês de abril. A França passou pela sua maior seca em 2022 e especialistas alertam para o fato de que a situação pode ficar pior se não chover nos próximos dias.
Christophe Béchu, ministro da Transição Ecológica da França, chamou a seca de inverno de “sem precedentes” e avisou que o país está em estado de alerta.
Nos Alpes franceses, a queda de neve também é baixa. De acordo com a Cima Research Foundation, a região está com 63% menos neve do que o normal.
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“A situação nos Pireneus está próxima do menor recorde de quantidade de neve para essa época do ano”, disse Simon Mittelberger, climatologista da Météo-France.
O problema não é diferente na Itália, onde corpos de água famosos estão começando a secar. A falta de chuva dificulta o uso das famosas gândulas e táxis aquáticos em Veneza, cidade que costuma temer inundações nesta época do ano.
No Lago Gorda, uma passarela se abriu no meio do leito, dando acesso a uma pequena ilha. Essa passarela não aparecia havia meses.
Em 2022, o maior rio italiano, o Pó, enfrentou sua maior seca. Agora, está com 61% menos água que o normal para esse período, afetado pela falta de neve nos Alpes.
Especialistas se preocupam que essas condições climáticas se intensifiquem durante o ano, com o pior ainda por vir.
“O ano de 2023 está apenas começando, mas está dando sinais preocupantes em termos de eventos climáticos extremos (e) níveis de seca”, disse Giorgio Zampetti, gerente-geral da Legambiente, um grupo ambientalista italiano.