A Polônia, um dos aliados mais leais da Ucrânia, disse nesta quinta-feira, 21, que vai deixar de armar a vizinha contra a Rússia. A declaração do primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, a primeira do tipo vinda de um membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), ocorre em meio a uma disputa diplomática sobre as exportações de cereais de Kiev e à corrida eleitoral polonesa.
“Não estamos mais transferindo. Nós vamos agora nos armar com as armas mais modernas”, disse Morawiecki em um programa da TV privada Polsat News.
O porta-voz do governo, Piotr Muller, esclareceu posteriormente que os equipamentos previamente acordados ainda seriam entregues. A fabricante PGZ deve enviar cerca de 60 armas de artilharia Krab nos próximos meses.
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No entanto, se mantida, a medida será profundamente sentida pelos ucranianos. A Polônia é, segundo o Instituto para Economia Mundial de Kiel, na Alemanha, a sexta maior fornecedora de ajuda militar à Ucrânia desde a invasão de fevereiro de 2022.
O governo polonês já enviou o equivalente a R$ 15,6 bilhões em armas: pelo menos 240 tanques T-72, e um número incerto de obuseiros Krab e 14 caças MiG-29320.
Embora tenha ressaltado que seu país continuaria ajudando a derrotar os “bárbaros russos”, mantendo um centro militar em Rzeszow, perto da fronteira ucraniana, a declaração o premiê ocorre em um momento altamente delicado na relação entre os vizinhos e tem um contexto eleitoral para explicar a assertividade.
O governo polonês intensificou o seu discurso de apoio aos agricultores do país, que se sentem ameaçados pelas importações de cereais ucranianos. A invasão em grande escala da Rússia forçou a Ucrânia a encontrar rotas terrestres alternativas, porque as principais rotas marítimas do Mar Negro estão praticamente fechadas, o que fez com que grandes quantidades de cereais acabassem na Europa Central.
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A Polônia, Eslováquia, Bulgária, Romênia e Hungria vetaram temporariamente a compra de grãos ucranianos, vitais para a sobrevivência econômica de Kiev. Nesta semana, os poloneses, eslovacos e húngaros votaram para manter a proibição, apesar de apelos da União Europeia. Segundo os governos, há risco de o mercado ser inundado pelos produtos vizinhos, causando desequilíbrios inflacionários e riscos aos agricultores locais.
A Ucrânia respondeu às proibições com ações judiciais na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra esses países, chamando-as de uma violação das obrigações internacionais. A ministra da Economia ucraniana, Yulia Svyrydenko, disse que era “crucialmente importante para nós provar que os estados membros individuais não podem proibir as importações de produtos ucranianos”.
Porém, a Polônia manteve a proibição e ainda afirmou que uma “queixa perante a OMC não nos impressiona”.
Na terça-feira 19, Varsóvia também convocou o embaixador da Ucrânia por causa de comentários feitos pelo presidente Volodymyr Zelensky nas Nações Unidas. O líder ucraniano disse que era alarmante o “teatro político” e “terrorismo a partir de cereais” por parte de alguns de seus aliados na Europa.
Varsóvia disse que as afirmações foram “injustificadas em relação à Polônia, que apoiou a Ucrânia desde os primeiros dias da guerra”. Morawiecki declarou que se Kiev intensificar a disputa de grãos, não hesitaria em aumentar o número de produtos proibidos.
A situação parece ter melhorado depois de um encontro dos ministros da Agricultura dos dois países, que acordaram em procurar uma solução favorável para os dois lados. Apesar da proibição, Varsóvia continua permitindo o transporte de cereais através do país para outros mercados.