Em longa estagnação, Japão elege primeiro-ministro progressista
O ex-ministro da Defesa do país assume a liderança do partido conservador no poder em meio a escândalos políticos e crise econômica
O ex-ministro da Defesa Shigeru Ishiba se tornará o novo primeiro-ministro do Japão após vencer a disputa acirrada pela liderança do Partido Liberal Democrata (PLD) nesta sexta-feira, 27.
Em sua quinta tentativa de assumir o poder do partido conservador que governou o Japão quase continuamente desde 1955, Ishiba venceu a ministra de segurança econômica, Sanae Takaichi, que concorria para se tornar a primeira mulher a liderar o país, com 215 votos contra 194.
Conhecido por ser um crítico dentro de sua própria legenda, Ishiba se posiciona na ala mais progressista do PLD e, após sua vitória, afirmou que pretende reformar o partido no poder, revitalizar a economia e enfrentar as ameaças à segurança impostas por potências vizinhas, sobretudo a China.
“Devemos ser um partido que permita que os membros discutam a verdade de maneira livre e aberta, um partido que seja justo e imparcial em todos os assuntos e um partido com humildade”, disse ele, acrescentando que agora o PLD poderia “renascer e recuperar a confiança do povo.”
O político de 67 anos se destaca por suas promessas de combater a inflação e impulsionar o aumento dos salários reais.
Entre suas principais propostas, estão a defesa de uma lei que permitiria às mulheres casadas manterem seus sobrenomes de solteira e a redução da dependência do Japão em energia nuclear, priorizando fontes renováveis.
Além disso, ele sugere a criação de um bloco de segurança asiático, inspirado na Otan, para enfrentar as ameaças da China e da Coreia do Norte.
Ishiba tem sua ascensão ao cargo de primeiro-ministro praticamente garantida devido à maioria que seu partido detém no parlamento. Ele afirmou que formará seu governo na próxima terça-feira, após ser oficialmente votado em uma sessão especial do parlamento.
Crise no partido
O ex-ministro da Defesa vai substituir o primeiro-ministro Fumio Kishida, que renunciou ao cargo em agosto, em meio a escândalos políticos no PLD envolvendo membros de seu governo e uma crise inflacionária que aumentou o custo de vida, combinação que produziu ampla insatisfação entre a população.
Nos últimos meses, o PLD enfrentou um dos maiores escândalos políticos do Japão em décadas, com a revelação de que o partido tinha um fundo secreto de doações políticas não registradas feitas em eventos de arrecadação de fundos. A situação se agravou após funcionários de alto escalão serem acusados de violações da lei eleitoral e declarações ofensivas.
Embora popular entre o público, Ishiba, que se autoproclama lobo solitário, colecionou inimigos em seu partido após fazer inúmeras críticas aos escândalos envolvendo membros do PLD.
O novo premiê enfrenta a tarefa de restaurar a confiança do público no partido antes das eleições gerais de 2025 e enfrentar os problemas econômicos agravados pela desvalorização do iene, as crescentes tensões geopolíticas com a China e o possível retorno de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos no ano que vem.