Um homem “sem princípios”, “mentiroso” e “cruel” são algumas das características atribuídas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por sua irmã mais velha, a juíza federal aposentada Maryanne Trump Barry. As declarações fazem parte de uma série de gravações feitas entre 2018 e 2019, por sua sobrinha Mary L. Trump, sem que a tia soubesse. Os áudios foram obtidos e divulgados com exclusividade na noite deste sábado, 22, no site do jornal Washington Post.
Esta é a primeira vez que são divulgadas críticas ferrenhas a Donald Trump por um parente próximo seu. Ao todo, são 15 horas de gravações. Em um dos trechos, a juíza aposentada atac a atuação do irmão na Casa Branca. “Seus malditos tuítes e as mentiras, oh meu Deus”, diz ela. “Você sabe que há mudança nas histórias. A falta de preparação. A mentira”.
Em outro ponto, Barry, de 83 anos, diz que ouviu uma entrevista de 2018 com seu irmão na Fox News, na qual ele sugeriu que a colocaria na fronteira para supervisionar casos de crianças imigrantes separadas de seus pais. “Se você for uma pessoa religiosa, você quer ajudar as pessoas. Não faça isso”, diz Barry. A irmã do presidente também pode ser ouvida dizendo acreditar que seu irmão nunca leu suas opiniões sobre casos de imigração. “O que ele leu?”, Mary Trump pergunta a sua tia. Barry responde: “Não. Ele não lê.”
Até os áudios se tornarem públicos, a juíza aposentada Maryanne Trump Barry mantinha opiniões contrárias à postura do irmão restritas ao universo familiar. Ela nunca havia falado publicamente sobre as suas desavenças com Trump. Os áudios, no entanto, dão a entender que os desentendimentos datam dos anos 1980, época em que ela pediu um favor ao irmão e ele teria tentado levar o mérito sobre a vida profissional bem-sucedida da magistrada. “É a falsidade de tudo. É a falsidade e a crueldade. Donald é cruel”, disse Barry em outro trecho das gravações.
Parte das 15 horas de gravações foi usada como base para o livro escrito por Mary Trump sobre o presidente americano. Na publicação, a sobrinha afirma que Trump pagou a um amigo para fazer a prova do SATs – espécie de vestibular dos EUA – para que ele fosse transferido para a universidade da Pensilvânia. A publicação tenta explicar como a experiência do presidente Trump em uma das realidades mais ricas de Nova York, a dos impérios imobiliários, moldou seus “comportamentos distorcidos”. Mary Trump já declarou publicamente seu apoio ao rival do tio, o democrata Joe Biden, nas eleições presidenciais deste ano.
A divulgação das gravações é um novo combustível para os adversários de Trump a pouco mais de dois meses do pleito. Horas após a publicação da reportagem sobre os áudios, o presidente repudiou as gravações. “Todo dia é outra coisa, quem se importa. Continuarei a trabalhar duro para o povo americano “, disse Trump em um comunicado. “Nem todos concordam, mas os resultados são óbvios. Nosso país logo estará mais forte do que nunca”