Dezenas de milhares de armênios saíram às ruas de Yerevan nesta quarta-feira (2), bloqueando avenidas e edifícios públicos, em protesto contra a recusa do Parlamento em aceitar o líder opositor Nikol Pashinian como candidato a primeiro-ministro. Os manifestantes se reuniram no centro da cidade em resposta à convocação de “desobediência civil” de Pashinian, que lidera um movimento de protesto no país desde 13 de abril.
Em uma demonstração de força, os manifestantes paralisaram a capital da Armênia, onde quase todas as ruas estavam fechadas ao trânsito e muitas lojas, fechadas. O transporte ferroviário foi afetado e a estrada que leva ao aeroporto bloqueada.
Nas ruas, a multidão exibe bandeiras armênias, faz barulho com cornetas e grita “Armênia livre e independente!”.
“Queridos, o metrô e as ferrovias foram paralisados”, afirmou Pashinian a seus seguidores, antes de informar que várias universidades e escolas se uniram ao protesto. Pouco depois, no entanto, Pashinian pediu a seus partidários que liberassem a estrada para o aeroporto.
A polícia não atuou até o momento para tentar acabar com os protestos.
“Vários cenários estão sendo discutidos. Cada cenário resulta na vitória do povo”, disse Pashinian. “O povo não vai desistir, os protestos não diminuirão”, afirmou à agência AFP Serguei Konsulian, um empresário de 45 anos.
A Armênia está há três semanas em uma crise política sem precedentes: um movimento de protesto provocou no dia 23 de abril a renúncia de Serzh Sarkisian, que havia sido eleito primeiro-ministro seis dias antes pelos deputados. Sarkisian foi presidente do país por 10 anos.
O Parlamento não conseguiu se reunir nesta quarta-feira por falta de quorum, após a recusa do Partido da Prosperidade a participar na sessão. “O país se encontra em uma situação de emergência. Nossa bancada inicia um boicote político”, afirmou um de seus deputados, Vahe Enfiagian.
Nova votação na terça-feira
O Parlamento anunciou hoje que organizará uma nova votação em 8 de maio. Caso fracasse novamente em definir o chefe de Governo, a Câmara deverá ser dissolvida para a convocação de eleições legislativas antecipadas.
Os deputados, reunidos na terça-feira em sessão extraordinária para definir um novo primeiro-ministro, rejeitou a candidatura do opositor Pashinian, embora ele fosse o único nome na disputa.
O Partido Republicano, que governa o país e tem maioria no Parlamento, votou contra o nome de Pashinian. Dos 100 deputados que participaram na sessão, 55 rejeitaram o opositor e 45 votaram a favor do líder dos protestos. “Senhor Pashinian, não o vejo no cargo de primeiro-ministro”, afirmou Eduard Sharmazanov, porta-voz do Partido Republicano e vice-presidente do Parlamento.
Antes da votação de terça-feira, vários deputados do partido no poder criticaram o que consideram falta de coerência do programa político de Pashinian. “Não se pode ser um pouco socialista e um pouco liberal”, declarou Sharmazanov.
Quando anunciou sua candidatura ao cargo de chefe de Governo, Pashinian multiplicou as demonstrações de força e reuniu, quase diariamente, seus partidários na Praça da República. Muitos armênios recordam as mortes de 10 manifestantes em 2008 em confrontos com a polícia, quando Serzh Sarkisian havia acabado de obter o primeiro mandato presidencial.
Pashinian passou à clandestinidade durante meses, antes de se entregar às autoridades. Foi detido, mas em 2011 ganhou a liberdade graças a uma anistia.
Os partidários de Pashinian afirmam que Serzh Sarkisian, presidente da Armênia de 2008 a 2018, e o Partido Republicano não reduziram a pobreza e a corrupção no país. Também deixaram os oligarcas no controle da economia da ex-república soviética do Cáucaso, que tem 2,9 milhões de habitantes.
(Com AFP)