Eleição em Nova York levanta debate sobre violência e verbas à polícia
Medo da violência se tornou ponto focal da corrida, à medida que moradores vão às urnas em meio ao aumento de crimes violentos em todo os EUA
O medo da violência se tornou o ponto focal da corrida à prefeitura de Nova York, à medida que moradores vão às urnas nas eleições primárias para escolher candidatos democratas e republicanos em meio ao aumento de crimes violentos em todo os Estados Unidos. Por consequência, entra em debate também o destino de verbas à polícia.
O prefeito Bill de Blasio deixa o cargo após oito anos, o máximo permitido, abrindo espaço para novatos que querem liderar a maior cidade do país. Como a metrópole tende a ser majoritariamente democrata, os dois candidatos republicanos não atraíram tanta atenção do público geral, mas esperam tentar surpreender. Desde 1994, dois dos três prefeitos nova-iorquinos foram republicanos: Rudy Giuliani e Michael Bloomberg, que se tornou independente durante seu mandato.
As primárias são vistas como um indicativo de como eleitores equilibram prioridades como crime e reforma polícia. Em meio a uma ampla gama de opções de voto, a questão de criminalidade e segurança pública superou a Covid-19 como maior preocupação entre os eleitores, o que impulsiona discursos moderados e serve como ponto de pressão para a ala mais progressista da esquerda.
Até o momento, mais de 33.000 moradores da cidade morreram de Covid-19, mais que qualquer outra grande cidade dos EUA.
No entanto, conforme as taxas de infecção caem e as de vacinação sobem, eleitores dizem que segurança pública e criminalidade são as maiores preocupações, de acordo com uma pesquisa recente do NY1/Ipsos. A pesquisa descobriu que 46% dos eleitores veem o crime como sua principal preocupação, ultrapassando a habitação popular com 45% e a Covid-19 com 32%.
Os incidentes com tiroteios aumentaram 73% em maio de 2021 em relação ao ano anterior, conforme a pandemia retrocede e Nova York começa a reabrir, de acordo com números do Departamento de Polícia de Nova York citados pela CNN.
A preocupação, no entanto, parece ter caráter nacional. Na próxima quarta-feira, 23, o presidente Joe Biden falará sobre o que vai fazer para ajudar a resolver o aumento do crime, especialmente a violência armada.
Os crimes com armas de fogo aumentaram drasticamente nas principais áreas metropolitanas e, especialmente, na maior cidade do país, Nova York.
O democrata Eric Adams, ex-capitão do Departamento de Polícia de Nova York e presidente do bairro do Brooklyn, argumentou que ele é o mais adequado para lidar com o aumento dos índices de criminalidade, e os eleitores parecem estar ouvindo. Uma pesquisa da Ipsos divulgada em 21 de junho revelou que os prováveis eleitores entrevistados viam Adams como o melhor candidato para lidar com o aumento da criminalidade.
A pesquisa também sugeriu que Adams estava liderando entre os 11 candidatos democratas, com 28% de apoio.
Também na dianteira da corrida, entre os democratas, está Andrew Yang, ex-pré-candidato presidencial pelo partido.
“Se a cidade não consegue parar tiroteios na Times Square, o que isso diz sobre o que está acontecendo em outras áreas da cidades onde não estamos investindo o suficiente e onde sabemos que as taxas de violência com arma estão mais altas?”, disse Yang, em referência ao caso em maio em que duas mulheres e uma menina de quatro anos foram baleadas no ponto turístico.
Embora muito abaixo dos 50% necessários para vencer a eleição no primeiro turno, Adams ainda está bem posicionado no novo sistema de votação da cidade, que permite aos nova-iorquinos escolherem candidatos com base em preferências e, em seguida, elimina os candidatos com classificação mais baixa em várias rodadas até que um vencedor seja selecionado.
Adams é contra os apelos para corte de verbas de polícia, que ganharam força nacionalmente depois da morte de George Floyd por um policial branco em Minneapolis. Os fundos seriam, por sua vez, desviados para outros programas de serviço social que se concentram na prevenção do crime através da melhoria das condições de vida das pessoas.
A posição de Adams é contrária à da também pré-candidata Maya Wiley, advogada de direitos civis e ex-funcionária do governo de Blasio. Ela pediu a transferência de 1 bilhão de dólares do orçamento de 6 bilhões da Polícia de NY, com reinvestimentos em comunidades mais afetadas pela violência.
Independentemente de cortes em orçamentos da polícia, as taxas de criminalidade estão aumentando. Houston e Nashville, duas cidades administradas por prefeitos democratas, aumentaram seu financiamento para a polícia no ano passado.
Em Houston, os homicídios aumentaram 35% e os homicídios de Nashville em janeiro e fevereiro dobraram em relação ao mesmo período de 2020, de acordo com a mídia local.
A relação com a polícia é alvo de críticas há décadas nos Estados Unidos, sobretudo em relação a abordagens a pessoas negras. As tensões aumentaram consistentemente desde 2014, quando Michael Brown, um adolescente negro desarmado, foi morto a tiros pela polícia em Ferguson, Missouri. O clamor público e protestos ajudam a lançar o movimento Black Lives Matter.
A confiança na aplicação da lei despencou em meados do ano passado, quando os EUA testemunharam protestos consistentes contra o racismo e a brutalidade policial.