El Niño já chegou e países devem se preparar, diz agência da ONU
Especialistas afirmam que países devem montar esforços para lidar com calor recorde e eventos climáticos mais extremos
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) declarou o início do fenômeno de aquecimento El Niño e alertou governos mundiais sobre a possibilidade de eventos climáticos mais extremos e temperaturas recordes nos próximos meses. A declaração tem objetivo de mobilizar os países para mais esforços para proteger a saúde da população, os ecossistemas e as economias.
O El Niño é um padrão climático natural no Oceano Pacífico tropical que traz temperaturas da superfície do mar mais quentes do que a média. No geral, ele tem uma grande influência no clima em todo o mundo, com capacidade de afetar bilhões de pessoas.
“O início do El Niño vai aumentar muito a probabilidade de quebrar recordes de temperatura e provocar mais calor extremo em muitas partes do mundo e no oceano”, disse Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, que reafirmou a necessidade dos governos de estabelecerem sistemas de alerta precoce para novos eventos climáticos.
De acordo com dados divulgados pelo Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos, a última segunda-feira, 3 de julho, foi o dia mais quente da história registrado em escala global. Segundo a análise, a temperatura média planetária atingiu 17,01°C. No recorde anterior, de agosto de 2016, a média do globo havia sido de 16,92°C.
Os últimos três anos foram alguns dos mais quentes já registrados, mesmo com a atuação do fenômeno irmão do El Niño, o La Niña, que é marcado por temperaturas oceânicas mais baixas do que a média. A agência das Nações Unidas para o clima disse esse aquecimento é devido a um “golpe duplo” de um El Niño muito forte e o aquecimento causado pelo homem devido à queima de combustíveis fósseis, que fizeram com que 2016 se tornasse o ano mais quente já registrado.
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Porém, o primeiro El Niño a se desenvolver em sete anos, somado ao aquecimento global, pode impulsionar 2023 ou 2024 e quebrar o recorde de calor de 2016. A OMM disse que há 90% de probabilidade de o El Niño continuar durante o segundo semestre de 2023 com força moderada.
Juntamente com o aumento do aquecimento dos oceanos, os eventos do El Niño são geralmente associados ao aumento das chuvas em partes do sul da América do Sul, sul dos Estados Unidos, Chifre da África e Ásia central. Além disso, o fenômeno também pode amplificar secas severas, ondas de calor e incêndios florestais na Austrália, Indonésia, partes do sul da Ásia, América Central e norte da América do Sul.
A Índia, um importante produtor de alimentos, pode enfrentar dificuldades para encher os aquíferos e avançar em cultivos de alimentos devido ao enfraquecimento das monções. Outros impactos incluem perigosos ciclones tropicais no Pacífico e o branqueamento em massa de frágeis recifes de corais.
O El Niño também pode prejudicar o crescimento econômicao dos EUA, impactando desde os preços dos alimentos até as vendas de roupas de inverno. Especialistas atribuíram US$ 5,7 trilhões (R$ 27,7 trilhões) em perdas globais de renda ao El Niño de 1997-98 e US$ 4,1 trilhões (R$19,9 trilhões) em perdas ao de 1982-83.
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O mundo pode ser empurrado temporariamente para além de 1,5°C de aquecimento acima dos níveis pré-industriais devido ao fenômeno. De acordo com a OMM, há 66% de probabilidade de que a temperatura global média anual perto da superfície entre 2023 e 2027 fique mais alta do que o número comprometido pelos países no Acordo Climático de Paris.
“Isso não quer dizer que nos próximos cinco anos excederemos o nível de 1,5 grau Celsius especificado no Acordo de Paris, porque esse acordo se refere ao aquecimento de longo prazo ao longo de muitos anos”, disse Chris Hewitt, diretor de serviços climáticos da OMM. “No entanto, é mais um alerta, ou um alerta precoce, de que ainda não estamos indo na direção certa para limitar o aquecimento dentro das metas estabelecidas em Paris em 2015, projetadas para reduzir substancialmente os impactos das mudanças climáticas.”
Em 2023, vários recordes climáticos já foram quebrados com temperaturas elevadas, oceanos excepcionalmente quentes, aumento de poluição de carbono na atmosfera e diminuição do gelo antártico. Em toda a Ásia, Europa e Américas, ondas de calor precoces e prolongadas mataram pessoas, animais e plantações. Especialistas agora se preocupam com a questão da segurança alimentar e a escassez de água e prepararam o terreno para incêndios florestais sem precedentes.