A reeleição de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, alcançada nesta quarta-feira, 6, pode transformar a dinâmica das relações diplomáticas com o Brasil, afetando áreas como economia, meio ambiente e política externa. Com uma agenda focada em protecionismo, restrições à imigração e medidas econômicas controversas, a vitória do republicano pode impactar desde as remessas de brasileiros no exterior até as relações comerciais entre os dois países.
Migração
Uma das promessas de Trump na campanha eleitoral que pode afetar diretamente o Brasil é a implementação de políticas mais rigorosas de imigração. Durante seu governo, o ex-presidente já havia sinalizado um endurecimento nas regras, e sua reeleição pode intensificar a deportação em massa de imigrantes sem documentos, uma medida que afetaria cerca de 11 milhões de pessoas, incluindo aproximadamente 200 mil brasileiros.
Se essa política for de fato colocada em prática, muitos imigrantes de longa data, que não mantêm mais vínculos estreitos com o Brasil, terão que retornar ao país, gerando um impacto social e econômico considerável. Além disso, a remessa de dinheiro enviada pelos imigrantes brasileiros aos seus familiares no Brasil pode sofrer uma queda expressiva, afetando as finanças de muitas famílias.
Trump também promete restringir ainda mais a emissão de vistos temporários, especialmente para trabalhadores estrangeiros, dificultando a entrada de novos imigrantes e a renovação de permissões já existentes. Essa medida deve afetar diretamente brasileiros que buscam oportunidades de emprego nos Estados Unidos.
Por outro lado, um aspecto positivo para alguns brasileiros seria a criação de um caminho mais fácil para a residência permanente de estrangeiros formados em universidades americanas, o que poderia beneficiar os aproximadamente 16 mil estudantes brasileiros atualmente no país.
Comércio
No campo econômico, declarações dadas por Trump durante a campanha causaram “apreensão” no Brasil e nos países emergentes. O ex-presidente, agora presidente eleito, tem reiterado sua intenção de aplicar uma tarifa mínima de 10% sobre todas as importações, o que afetaria diretamente as exportações brasileiras para os Estados Unidos. Em 2024, o Brasil já exportou cerca de US$ 19 bilhões para os EUA, e um aumento nas tarifas poderia prejudicar setores como o agronegócio e a indústria de ferro e aço, que dependem desse mercado.
Entretanto, há também uma possível oportunidade para o Brasil, já que Trump anunciou a intenção de aplicar tarifas ainda mais altas sobre a China — de até 60%. Isso poderia abrir portas para o Brasil expandir suas exportações para os Estados Unidos, especialmente em setores como alta tecnologia e commodities, que poderiam se beneficiar da política de “America First”, embora o protecionismo de Trump também favoreça a produção interna dos EUA.
Além disso, os planos de Trump de oferecer incentivos fiscais às empresas podem aumentar o déficit fiscal americano, o que, em consequência, pressionaria a inflação e forçaria o Federal Reserve (Fed) a elevar as taxas de juros. Esse cenário pode gerar impactos negativos para o Brasil, com uma inflação mais alta e uma valorização do dólar, tornando os produtos brasileiros mais caros no mercado internacional.
Meio ambiente
Trump também deixou claro que tomará medidas para revogar compromissos climáticos. Isso inclui, mais uma vez, a saída do Acordo de Paris logo no primeiro dia de governo, o que poderia impactar iniciativas globais de combate às mudanças climáticas, como o Fundo Amazônia, do qual os Estados Unidos contribuíram com R$ 219 milhões até agora.
Além disso, Trump anunciou que pretende expandir a exploração de combustíveis fósseis no território americano, o que, ao aumentar a oferta de petróleo, poderia reduzir o preço do barril no mercado internacional. Isso teria efeitos no preço do combustível, tanto nos Estados Unidos quanto globalmente, beneficiando consumidores em países como o Brasil — embora, em caso de novos conflitos no Oriente Médio, o cenário de preços baixos possa ser alterado.
Regulação digital
No setor de tecnologia, Trump parece adotar uma postura mais liberal, com a intenção de deixar as empresas regularem questões como o uso de plataformas digitais e o desenvolvimento de inteligência artificial. Essa abordagem pode gerar novos desafios legais em nível global, afetando a forma como governos, como o do Brasil, lidam com a regulação de novas tecnologias, especialmente em processos eleitorais e questões de privacidade.
Riscos para a democracia
A reeleição de Trump também traz à tona preocupações sobre a estabilidade democrática, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Seu histórico de questionar os resultados das eleições de 2020 e os episódios de violência, como a invasão do Capitólio, que guarda semelhanças com os ataques de 8 de janeiro de 2023 no Brasil, geram temores de novas ameaças à ordem democrática. Especialistas alertam que, sob sua liderança, as tensões políticas internas nos EUA podem se intensificar, o que não só afetaria a imagem do país no cenário internacional, mas também teria reflexos diretos nas relações exteriores, incluindo com o Brasil.