Discurso de Alvim parafraseando nazismo é criticado pela mídia estrangeira
A revista alemã Der Spiegel diz que as falas de Alvim são "chocantes"; para o espanhol El País, episódio coloca Bolsonaro em situação difícil
O discurso do então secretário nacional da Cultura, Roberto Alvim, com trechos de textos do nazista Joseph Goebbels e sua consequente demissão nesta sexta-feira, 17, foram destacados em reportagens em tom crítico nos jornais e portais de notícias internacionais. Para a revista alemã Der Spiegel, as declarações de Alvim foram “chocantes”.
A revista também sublinhou, porém, o posicionamento da embaixada do Brasil em Berlim. “O período do nacional-socialismo é o capítulo mais sombrio da história alemã, trouxe sofrimento infinito à humanidade. A Alemanha permanece responsável por isso. Nós nos Opomos a qualquer tentativa de banalizar ou mesmo glorificar a era do nacional-socialismo.”
O britânico The Guardian ressaltou a equivalência entre os discursos de Alvim e de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Adolf Hitler e um dos idealizadores do nazismo. “As palavras são surpreendentemente semelhantes às que o ministro de Hitler teria dito a um grupo de gerentes e diretores de teatro em 1933”, reportou.
O jornal completou que a fala de Alvim “desencadeou uma tempestade de indignação”.
O jornal americano The New York Times informou que a indignação com o pronunciamento de Alvim nas redes sociais fizeram bombar as hashtags #Goebbels e #Nazismo. Mas a iniciativa do ex-ministro da Cultura foi também “o mais recente ponto de inflamação no debate mais amplo sobre liberdade de expressão e cultura na era Bolsonaro“. “O presidente fez campanha com a promessa de corrigir o curso [do país] depois de uma era de regulação por líderes esquerdistas, a quem ele acusa de tentar impor o ‘marxismo cultural'”, afirma o Times. “Seus críticos dizem que ele e seus aliados estão adotando um conceito dogmático para as artes, o sistema de educação pública e à sexualidade e direitos reprodutivos.”
Já o diário espanhol El País publicou que “não é a primeira vez que membros do alto escalão do bolsonarismo emulam regimes autoritários”, recuperando a defesa ao AI-5 (Ato Institucional de 1968) feita pelo ministro da Economia Paulo Guedes e pelo deputado Eduardo Bolsonaro.
“O discurso de Alvim coloca Bolsonaro em uma situação difícil”, analisou o El País, que vê ameaçada a relação próxima do governo brasileiro com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, com quem o brasileiro vem tentando cultivar uma camaradagem, a exemplo da que mantém com americano Donald Trump.
O francês Le Figaro publicou sobre Alvim que “pedidos de demissão foram ouvidos em todos os lugares”. O diário listou figuras públicas como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia , e instituições como a Confederação Israelita do Brasil entre os que exigiram a exoneração do ex-secretário da Cultura.
O jornal francês também comentou que o Ministério da Cultura “simplesmente desapareceu sob o governo Bolsonaro após ser absorvido pelo da Cidadania [e rebaixado a secretaria]”. Lembrou ainda que, quando Alvim assumiu o cargo, em novembro, “prometeu ‘uma guerra cultural’ contra ‘forças progressistas'”.