Devemos respeitar a vontade do povo venezuelano, diz Kamala Harris
EUA estudam calibrar sanções de acordo com reação de Maduro ao desfecho da eleição, em meio a temores de manipulação de resultados
A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial do Partido Democrata, Kamala Harris, enviou um recado à Venezuela por ocasião das eleições no país sul-americano neste domingo, 28, afirmando que “a vontade do povo venezuelano deve ser respeitada”. Após uma corrida eleitoral marcada por um cerco intenso do regime de Nicolás Maduro à oposição, a comunidade internacional observa com atenção como o líder bolivariano vai reagir perante os resultados – que, segundo a grande maioria das pesquisas, podem pôr um fim aos 25 anos de ditadura chavista.
“Os Estados Unidos estão com o povo da Venezuela, que expressou sua voz na histórica eleição presidencial de hoje. A vontade do povo venezuelano deve ser respeitada. Apesar dos muitos desafios, continuaremos a trabalhar em direção a um futuro mais democrático, próspero e seguro para o povo da Venezuela”, escreveu Harris no X, antigo Twitter.
The United States stands with the people of Venezuela who expressed their voice in today’s historic presidential election. The will of the Venezuelan people must be respected. Despite the many challenges, we will continue to work toward a more democratic, prosperous, and secure…
— Vice President Kamala Harris (@VP) July 28, 2024
Expectativa dos EUA
Mais cedo neste domingo, o Secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que os Estados Unidos não prejulgariam os resultados das eleições presidenciais na Venezuela. No entanto, o chefe da diplomacia da Casa Branca pediu que todos partidos respeitassem o processo democrático, em declarações durante uma coletiva de imprensa em Tóquio.
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“Os Estados Unidos não irão prejulgar o resultado. Esta é uma escolha dos venezuelanos. Mas o povo venezuelano merece uma eleição que reflita genuinamente sua vontade, livre de qualquer manipulação”, disse Blinken.
Sanções dos EUA
Em outubro do ano passado, integrantes do governo de Maduro e da oposição venezuelana se reuniram em Barbados para assinar um acordo mediado por diplomatas da Noruega que garantia respeito às regras nas eleições presidenciais de 2024. Quem vencesse levaria, em respeito à Constituição. Observadores estrangeiros zelariam pelas regras e pela paz. O presidente bolivariano prometeu andar na trilha do bom senso, mas não.
Do tratado parece ter restado apenas a data do pleito, 28 de julho, que não por acaso é a do aniversário de Hugo Chávez, que em 2009 fez aprovar uma emenda constitucional para permitir reeleições ilimitadas. Ao morrer de câncer, em 2013, abriu-se a porta para seu vice, Maduro. Nas últimas semanas, o ditador tem exibido garras autoritárias com uma intenção evidente: permanecer mais um mandato — seria o terceiro — no Palácio de Miraflores.
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Washington aliviou as sanções à indústria petrolífera da Venezuela em outubro passado, em resposta ao acordo de Barbados. No entanto, diante do rol imenso de irregularidades – que incluiu a declaração de inelegibilidade de María Corina Machado, vencedora das primárias da oposição, a prisão de quase 40 dissidentes só neste ano e a expulsão do escritório das Nações Unidas para os direitos humanos em Caracas –, o governo americano restabeleceu parcialmente o bloqueio à economia do país sul-americano.
Respeitar os resultados
No poder há doze anos, Maduro tornou-se um mestre em driblar resultado eleitoral e proclamar que, apesar da pilha de evidências em contrário, é um mandatário legítimo. Na última votação, em 2018, conquistou o segundo mandato com uma receita que incluiu a desqualificação dos principais candidatos de uma oposição fragmentada e a desmobilização da população, que mais se absteve (54%) do que compareceu às urnas. Foi o que bastou para ele cantar vitória, com 67% dos votos.
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Neste domingo, 28, a situação será mais complicada: Maduro vai enfrentar uma oposição unida e uma sociedade mobilizada. Pesquisa divulgada pelo Instituto Delphos, na terça-feira 23, indicou que a coalizão de onze partidos que desafia o regime está 35 pontos à frente, com 60% das intenções de votos, e que a participação deve bater nos 80%. Restará ao presidente bolivariano, nesse cenário, duas opções: ou assume de vez o autoritarismo, ou admite que perdeu.
Autoridades dos Estados Unidos disseram que calibrarão sua política de sanções em relação à Venezuela a depender de como as eleições forem realizadas. Neste domingo, Blinken só afirmou por enquanto que Maduro não cumpriu muitos dos compromissos que assumiu no acordo de Barbados, mas enfatizou que ainda havia “enorme entusiasmo” antes da eleição.
“Pedimos a todas as partes que honrem seus compromissos e respeitem o processo democrático”, disse Blinken.