Descoberta de ossos em Roma revive mistério sobre garota desaparecida
Restos foram encontrados por operários em Nunciatura do Vaticano; imprensa especula que poderiam ser de menina desaparecida em 1983
O Vaticano anunciou na terça-feira a descoberta de “fragmentos de ossos humanos” em um local anexo à Nunciatura Apostólica da Santa Sé, em Roma.
A imprensa local especula que podem se tratar dos restos mortais de Emanuela Orlandi, a jovem filha de um funcionário do Vaticano cujo desaparecimento, há 35 anos, ainda é um dos maiores mistérios da Itália.
O Ministério Público de Roma abriu uma investigação sobre o crime de homicídio e ordenou uma análise dos restos encontrados por alguns operários, na tarde de segunda-feira, enquanto eles trabalhavam em obras na Nunciatura, segundo explicou o Vaticano em comunicado.
“O procurador-geral de Roma, Giuseppe Pignatone, pediu à polícia científica e à polícia de Roma que determinem a idade, o sexo e a data de morte”, de acordo com uma nota oficial.
A Nunciatura é uma missão diplomática de alto nível da Santa Sé, equivalente a uma embaixada. Em Roma, está localizada a aproximadamente 5 quilômetros do Vaticano.
Apesar de as autoridades não terem dado mais detalhes sobre a ocorrência, os meios de comunicação italianos imediatamente ventilaram a possibilidade de os restos pertencerem a Emanuela, a menina de 15 anos que desapareceu em 22 de junho de 1983, quando se dirigia à escola de música de Santo Apolinário, no centro de Roma. Seu paradeiro é desconhecido desde então.
“Será importante estabelecer o sexo, a idade e o período no qual foram enterrados esses restos antes de se chegar a qualquer conclusão”, explicou o porta-voz do Vaticano, Greg Burke.
Diante das notícias, a família de Emanuela Orlandi afirmou, por meio de sua advogada, Laura Sgro, que solicitaria informações ao Ministério Público e à Santa Sé sobre como os ossos foram encontrados e por que poderiam estar relacionados com o caso.
Alguns veículos de imprensa também levantaram a hipótese de que os restos mortais poderiam pertencer a duas pessoas, já que foram encontrados em dois lugares diferentes do porão na Nunciatura.
Isso também levou os jornais a sugerirem que os ossos poderiam pertencer a Mirella Gregori, outra jovem desaparecida naquele mesmo ano e da qual nunca houve notícias.
O caso de Emanuela tem muitos componentes de mistério, já que em torno de sua morte foram especuladas diferentes teorias. Chegou-se a afirmar que o assassinato seria obra de mafiosos, da Igreja e inclusive do turco Ali Agca que, em 1981, tentou assassinar o papa João Paulo II.
Na época, Agca chegou a dizer que o desaparecimento das duas adolescentes estava vinculado a uma exigência para que ele fosse libertado e assinalou que as duas estavam vivas. A hipótese, contudo, nunca foi comprovada, já que o terrorista mudou de versão em muitas ocasiões.
Esta não é a primeira vez em que são encontrados em Roma ossos que trouxeram novamente à tona os fatos em torno do desaparecimento de Emanuela.
Em 2012, foram encontradas ossadas sem identificação ao lado do túmulo de Enrico De Pedis, chefe da “Banda della Magliana”, a máfia de Roma durante os anos 1970 e 1980, na basílica de Santo Apolinário.
A pista de que alguém tinha encomendado à máfia romana o sequestro de Emanuela foi uma das hipóteses avaliadas durante a investigação. Sobretudo depois que a namorada de De Pedis, Sabrina Minardi, disse ao Ministério Público de Roma que ficou encarregada de colocar a jovem em seu automóvel e levá-la até o local onde seu companheiro tinha indicado.
Minardi explicou que a menina foi sequestrada por indicação do arcebispo americano Paul Marcinkus, então diretor do Instituto para as Obras Religiosas (IOR, mais conhecido como o Banco do Vaticano) “para dar um aviso a alguém”.
Após essas revelações, também foi investigado o ex-reitor da basílica de Santo Apolinário, Piero Vergari, que autorizou o sepultamento de De Pedis neste templo e que também trabalhou durante um período na Nunciatura do Vaticano em Roma.
(Com EFE)