Yoshiro Mori, presidente do comitê organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio e ex-primeiro ministro do Japão, renunciou ao cargo depois da repercussão mundial de suas declarações misóginas na semana passada. Durante uma reunião do comitê, Mori, de 83 anos, justificou a presença de poucas mulheres na organização dizendo que elas “falam demais”. Em certo ponto, ele afirmou que “se uma mulher levanta a mão para falar, as outras se sentem compelidas a fazer o mesmo. Então temos que garantir que o tempo delas seja monitorado ou elas não param, o que é irritante”. Quando questionado se acreditava mesmo no que havia dito, ele respondeu: “eu não dou ouvidos às mulheres, então não sei”.
Forçado a se explicar, Mori chegou a pedir desculpas, mas se recusou a deixar o cargo. No decorrer desta semana, porém, a hashtag “Mori, por favor, renuncie” se tornou trending topic no twitter. A pressão sobre o político aumentou quando quase 400 voluntários treinados ameaçaram abandonar os jogos se ele não saísse imediatamente.
Há poucas horas, depois de uma semana de escalada de tensão que chegou ao Comitê Olímpico Internacional (COI) e a outras autoridades japonesas, Mori finalmente renunciou, com um pedido de desculpas e a garantia de que os jogos não serão adiados novamente. As Olimpíadas de Tóquio deveriam ter sido realizadas em 2020, mas, por causa da pandemia, foram postergadas para julho deste ano. Desde que a crise do novo coronavírus eclodiu, o evento tem estado à mercê de uma ordem de cancelamento definitiva. Bilhões de dólares de prejuízo se acumulam, o que resultaria em perda total para o COI e o governo japonês se os jogos fossem suspensos outra vez.
Analistas e repórteres que acompanham a trajetória do ex-primeiro-ministro disseram que Mori é bem conhecido por suas gafes, mas que ficaram surpresos com declarações tão degradantes e retrógradas, uma vez que ele é casado, tem filha e neta. Segundo a imprensa local, sua família chegou a repreendê-lo: “Você falou besteira de novo, não foi?”, teria dito a esposa. O fato é que o deslize não teve perdão: a aposentadoria de Mori foi antecipada porque, na verdade, ele é um homem que fala demais.