Os negociadores do clima na COP29, que acontece em Baku, no Azerbaijão, receberam um ultimato nesta quinta-feira, 14: pagar agora para ajudar os países mais pobres a lidar com as mudanças climáticas ou pagar um preço ainda maior no futuro. Especialistas ouvidos na cúpula argumentaram que as nações em desenvolvimento precisarão de pelo menos US$ 1 trilhão por ano até o fim desta década para fazer uma transição para a energia limpa e se proteger contra eventos climáticos extremos.
Apelidada de “COP financeira”, a cúpula no Azerbaijão tem como objetivo principal chegar a um novo acordo para transferências relacionadas ao clima de países ricos para países pobres.
A meta anterior de US$ 100 bilhões anuais, estabelecida em 2009 e prevista para ser cumprida até 2020, foi alcançada apenas em 2022, segundo a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) – em grande parte por meio de empréstimos, e não de doações, o que muitos países beneficiários argumentam que precisa ser revisto.
Um relatório divulgado no início da cúpula pelo Grupo Independente de Especialistas em Finanças Climáticas instou que o objetivo anual fosse aumentado para US$ 1,3 trilhão até 2035 para manter as metas climáticas em curso, com maiores investimentos necessários já na próxima década para evitar custos significativamente mais altos no futuro.
“Qualquer déficit de investimento antes de 2030 colocará mais pressão nos anos seguintes, criando um caminho mais íngreme e potencialmente mais caro para a estabilidade climática”, disse o relatório. “Quanto menos o mundo alcançar agora, mais precisaremos investir mais tarde.”
Negociações difíceis
Nos bastidores da COP29, as negociações seguem sem um consenso estabelecido. Os textos preliminares divulgados pelo órgão climático das Nações Unidas refletem vários pontos de vista divergentes, indicando que as negociações serão difíceis.
Os países ricos resistem em aumentar o financiamento, a menos que grandes economias, como a China, também concordem em contribuir. Além disso, a situação é agravada pela possível redução do apoio dos EUA, já que o presidente eleito Donald Trump se opõe ao financiamento climático.
Por outro lado, um grupo de 10 dos maiores bancos multilaterais de desenvolvimento se comprometeram a aumentar o financiamento climático em cerca de 60% – para US$ 120 bilhões anuais até 2030 –, somados a pelo menos US$ 65 bilhões de fontes privadas.
Na quinta-feira, o chefe da Associação de Bancos do Azerbaijão, Zakir Nuriyev, anunciou que os 22 bancos do país se comprometeram a destinar quase US$ 1,2 bilhão para financiar projetos voltados à transição do Azerbaijão para uma economia de baixo carbono.
Brigas diplomáticas
A COP29 foi marcada por conflitos diplomáticos desde seu início. No discurso de abertura da cúpula, o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, criticou EUA e UE por suposta hipocrisia por cobrarem uma ação climática de outros países enquanto são eles mesmos grandes consumidores e produtores de combustíveis fósseis.
A ministra do clima da França, Agnès Pannier-Runacher, cancelou sua viagem ao evento depois que Aliyev acusou a França de cometer “crimes” em seus territórios ultramarinos no Caribe, alegando que as vozes dessas comunidades “são brutalmente suprimidas”.
Em resposta, o comissário de clima da União Europeia, Wopke Hoekstra, afirmou que a COP deve ser um espaço neutro para a negociação climática e que cabe à presidência do evento garantir essa neutralidade.
Além disso, a Argentina retirou seus negociadores da COP29, sem explicação oficial. O presidente argentino, Javier Milei, tem uma postura controversa sobre o tema, tendo declarado que o aquecimento global é uma “farsa”.