Em 8 de novembro, os Estados Unidos vão às urnas novamente para renovar as cadeiras da Câmara, parte do Senado e dezenas de governadores. O acesso ao aborto e a imigração estão no centro das campanhas dos partidos Republicano e Democrata, que disputam o controle do Congresso do país.
+ A nova estratégia da direita dos EUA para questionar as eleições do país
Atualmente, o Senado está divido com 50 cadeiras para cada legenda, com os democratas no comando porque a vice-presidente Kamala Harris tem direito a votos de desempate. Contudo, a impopularidade do presidente Joe Biden pode prejudicar o partido no pleito.
+ Maioria dos eleitores democratas não quer reeleger Biden, diz pesquisa
Tradicionalmente, o partido no poder costuma ser derrotado nesse tipo de eleição, que é realizada a cada dois anos. Caso os republicanos conquistem ao menos uma cadeira ocupada pelos democratas, eles ganharão o controle da casa mais alta do legislativo – e a capacidade de frustrar a agenda de Biden.
+ Com o fim do direito ao aborto nos EUA, o que acontece a seguir?
Na semana passada, o chefe da Casa Branca prometeu que o primeiro projeto de lei que promulgará, caso mantenha o controle do Congresso, será o direito ao aborto no país. A decisão judicial que permitia amplo acesso ao procedimento foi anulada pela Suprema Corte americana em julho deste ano.
Confira as disputas nos principais estados norte-americanos:
Geórgia
O estado conservador pode se mostrar crucial nas próximas eleições, após conceder vitórias surpreendentes aos democratas no Senado.
Um dos vencedores foi Raphael Warnock, que se tornou o primeiro senador negro do estado graças ao comparecimento em massa de eleitores negros às urnas. Desta vez, os republicanos também indicaram um candidato negro, Herschel Walker.
Os dois homens vêm de raízes humildes, mas seus projetos políticos divergem em muitos aspectos. O senador Warnock é um reverendo batista que ganhou destaque como pastor sênior na igreja de Martin Luther King Jr. Além disso, é uma estrela do futebol americano e ganhou apoio do ex-presidente Donald Trump.
+ O novo alvo de Trump para as eleições de novembro nos EUA
A campanha de Walker foi atormentada por uma série de escândalos pessoais – mas os eleitores conservadores parecem ter aceitado seus pedidos de desculpas, desde que continue com a rejeição às políticas liberais.
Já Warnock espera que sua campanha para proteger o aborto e o direito ao voto inspire os liberais, mas a alta inflação, a desaceleração da economia e a impopularidade de Biden ameaçam sua estreita liderança.
Se nenhum candidato obtiver 50% dos votos – uma possibilidade real, porque há ainda um candidato libertário de um terceiro partido –, haverá um segundo turno em 6 de dezembro.
Pensilvânia
Decisões acirradas em pleitos são uma característica do estado, no qual as duas últimas eleições presidenciais foram decididas por apenas 1% de diferença entre os candidatos.
O democrata progressista John Fetterman, formado em Harvard e ex-prefeito de uma cidade pequena, tinha uma liderança dominante na região até sofrer um derrame, há alguns meses. O incidente exigiu que ele passasse a usar tecnologia de legendas ocultas para responder a perguntas.
Seu oponente republicano, Mehmet Oz – mais conhecido como “Doctor Oz”, do Show de Oprah Winfrey – tem o desafiado repetidamente para debates públicos, e chegou a sugerir que Fetterman não ficaria doente se “já tivesse comido um vegetal em sua vida”.
Nevada
O estado elegeu a democrata Catherine Cortez Masto em 2016 como a primeira senadora latina do país. Agora ela é vista como a candidata com maior risco de perder o cargo este ano.
Os democratas vêm perdendo terreno com os latinos, em parte porque muitos preferem políticas conservadoras sobre aborto e imigração. Mas a economia – a questão mais importante para todos os grupos demográficos – é o ponto mais prejudicial. Nevada, que depende tanto das riquezas geradas em Las Vegas e Reno, foi particularmente atingida pela pandemia.
Os republicanos esperam que a insatisfação dos eleitores derrube o partido do presidente do poder. Se o fizerem, Adam Laxalt poderá ocupar a cadeira, seguindo a carreira política de seu pai e avô. O republicano é apoiador de Trump e defende suas alegações infundadas de que a eleição de 2020 foi fraudada.
Ohio
O estado tem histórico de eleger republicanos por duas eleições presidenciais consecutivas, mas a diferença de experiência entre os candidatos pode provocar uma mudança no local.
Os democratas nomearam Tim Ryan, deputado por 10 mandatos na Câmara dos Deputados e candidato à presidência em 2020.
Os republicanos nomearam JD Vance, um empresário que alcançou fama generalizada com seu best-seller de 2016 que virou filme da Netflix, “Um Sonho Americano”. O magnata, que já foi crítico do ex-presidente, agora busca o apoio de Trump. De acordo com especialistas, Vance tem chances de vencer, mas terá que trabalhar muito para que isso aconteça.
Arizona
Em nenhum lugar as teorias da conspiração sobre a eleição de 2020 se firmaram com mais força do que no estado do Grand Canyon.
O candidato republicano ao Senado, Blake Masters, defende abertamente a ideia de que Trump realmente venceu as últimas eleições e o resultado foi fraudado. Autoproclamado conservador, com uma plataforma nacionalista, ele é crítico feroz da Big Tech e se opõe à ajuda dos Estados Unidos à Ucrânia.
Buscando defender a cadeira ocupada pelos democratas está Mark Kelly, um ex-astronauta da Nasa cuja esposa, a congressista Gabby Giffords, foi baleada na cabeça em um incidente quase fatal em 2011.
O casal se concentrou no ativismo pelo controle de armas na última década, enquanto Giffords recupera lentamente sua capacidade de ler, falar e andar. Tentando driblar a rejeição dos eleitores, o senador Kelly se manteve neutro na discussão sobre a imigração ilegal neste estado fronteiriço.
Wisconsin
Em outro estado fortemente dividido, onde as eleições são decididas com margens mínimas, o Partido Democrata fez dessa corrida seu maior alvo no início do ciclo eleitoral. O candidato da legenda, Mandela Barnes, procurou atacar a visão antiaborto de seu oponente, Ron Johnson, mas é o republicano que tem vantagem.
Johnson havia prometido se aposentar como legislador após seu segundo mandato (ele tem 67 anos), mas mudou de ideia porque “o país está em perigo demais”.
O concorrente republicano votou contra a certificação da vitória eleitoral de Joe Biden em 2020, constantemente minimiza a importância da invasão ao Capitólio dos Estados Unidos por apoiadores de Trump e até sugeriu uma vez o uso de enxaguante bucal como medida contra o coronavírus.