O acesso a Machu Picchu, famosa cidadela Inca do Peru, continua bloqueado por protestos nesta terça-feira, 30, em meio a negociações entre os manifestantes e os ministros da Cultura, do Comércio Exterior e Turismo peruanos, além do prefeito de Cusco, Elvis Latorre, e do governador, Werner Salcedo. Os participantes dos atos acusam autoridades de realizarem uma “privatização sistemática” do ponto turístico, e sitiaram visitantes em meio às demonstrações.
Já faz uma semana que tanto as rotas de entrada quanto as de saída das muralhas do século XV foram bloqueadas por operadores turísticos e habitantes locais. Sua principal crítica e ponto de atrito com as autoridades é um novo sistema de ingressos para entrada em Machu Picchu.
Devido a preocupações com segurança, após os manifestantes invadirem os trilhos de trem durante um protesto, o sistema ferroviário foi paralisado no sábado 27, essencialmente deixando turistas encurralados. Desde então, o serviço permanece suspenso, informaram dois operadores ferroviários à agência de notícias Reuters.
O que aconteceu?
O movimento de protesto começou após a Joinnus, uma empresa de eventos e turismo, assumir a comercialização dos ingressos de entrada em Machu Picchu. Segundo um coletivo local de operadores de turismo, a companhia passará a embolsar US$ 3,2 milhões (R$ 15,9 milhões) por ano com o negócio, que entrou em vigor no último sábado.
Os manifestantes defendem que a iniciativa integra um projeto de “privatização sistemática” de Machu Picchu, destilando uma série de críticas à ministra da Cultura peruana, Leslie Urteaga.
“Somos contra a privatização sistemática de Machu Picchu. As pessoas não estão de acordo; esta empresa [de emissão de ingressos] foi contratada ilegalmente”, bradou o representante comunitário Darwin Baca à agência de notícias AFP.
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Uma das faixas da manifestação, que os participantes disseram que continuará “por tempo indeterminado”, dizia: “Ministra da Cultura, não alugue Machu Picchu. Alugue sua casa”.
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Negociações em curso
Com o resultado das negociações previsto para esta terça-feira, o clima em Machu Picchu é de tensão. Os representantes comunitários argumentam que a plataforma de venda de ingressos eletrônicos é uma “privatização” que prejudicará os comércios locais, colocando o lucro em um bolso só – o da Joinnus. O caos também atraiu uma onda de insatisfação entre turistas.
Em contrapartida, agências de preservação alertam que a superlotação das ruínas e a já excessiva venda de ingressos significam que as autoridades precisam encontrar uma solução de imediato, doa a quem doer. Antes da pandemia de Covid-19, que estremeceu a arrecadação com turismo ao redor do globo, a joia peruana atraia cerca de 4,5 milhões de visitantes por ano.
Frente às críticas, a Joinnus se colocou “à disposição” do Ministério da Cultura para rearticular o polêmico negócio e “renunciou voluntariamente ao recebimento da comissão variável por ingresso por um período de seis meses”. No plano em voga, a empresa receberia 3,9% de comissão a cada ticket vendido.
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Futuro de Machu Picchu
Do lado do governo, a crença é de que a recém-instaurada plataforma de ingressos será capaz de gerenciar de maneira mais efetiva o intenso vai e vem de turistas. Em setembro, o Peru optou pela radicalidade e fechou temporariamente três áreas de Machu Picchu, consequência da deterioração da cidadela. Mas, ao contrário do esperado, o contingente permitido disparou para 4.500 pessoas por dia a partir deste mês, acima das 3.800 do ano passado.
“Não há privatização. Temos que garantir o controle absoluto de todas as pessoas que entram na nossa cidadela”, contrapôs Ana Pena, assessora do Ministério da Cultura. “Existe o risco de Machu Picchu ser retirada da lista do Patrimônio Mundial da Unesco.”