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Conselheira de Orbán renuncia após discurso ‘puramente nazista’ do premiê

Em discurso no sábado, primeiro-ministro da Hungria disse que não é aceitável europeus se misturarem com pessoas de outros continentes

Por Matheus Deccache 26 jul 2022, 17h47

Uma conselheira de longa data do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, renunciou nesta terça-feira, 26, como forma de protesto a um discurso “puramente nazista” feito pelo premiê, dizendo ser “digno de Goebbels”, que foi ministro da Propaganda na Alemanha Nazista.

Zsuzsa Hegedüs, uma das funcionárias mais antigas do governo, disse conhecer Orbán desde 2002 e classificou sua relação com ele como amistosa. No entanto, em sua carta de demissão, publicada pela agência de notícias húngara hgv.hu, ela disse ter ficado desconfortável com a “virada iliberal” de seu líder nos últimos anos. 

+ Orbán declara estado de emergência na Hungria, expandindo seu poder

O premiê da Hungria fez da pauta anti-imigração uma parte fundamental de sua plataforma política desde 2015 e frequentemente faz uso de uma linguagem de extrema-direita, mas no último sábado, 23, seu discurso extrapolou até mesmo seus padrões a se manifestar contra o que ele chamou de “mistura de raças”.

Em sua fala, ele disse que a mistura entre europeus até era aceitável, mas pessoas do continente se misturando com não europeus criavam pessoas de “raça mista”.

“Estamos dispostos a nos misturar, mas não queremos nos tornar mestiços”, disse Orbán, acrescentando que os países onde isso foi visto como aceitável “não são mais nações”.

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Hegedüs disse que há muito tempo defende o primeiro-ministro de acusações de antissemitismo, mas acredita que seu último discurso é lamentável. 

“Lamento sinceramente que uma postura tão vergonhosa tenha me forçado a romper nosso relacionamento”, escreveu ela na carta.

+ Orbán supera oposição unida e conquista quarto mandato na Hungria

Em resposta, o gabinete do premiê aceitou a renúncia, mas rebateu as acusações feitas pela conselheira. Segundo a nota, “não era aceitável que Hegedüs o acusasse de racismo depois de trabalhar com ele por 20 anos”, completando que ela “sabia melhor do que ninguém que a Hungria segue uma política de tolerância zero contra o antissemitismo e o racismo”.

O tradicional discurso anual de Orbán na Romênia recebeu reações imediatas dentro do país e no exterior. O premiê húngaro se utiliza da imagem de lutador contra o “politicamente correto” e as elites liberais europeias, mas a demissão de um membro tão próximo a ele indica que há um desconforto com o desenvolvimento de sua retórica sobre raça. 

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