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Como um rapper incendiário virou símbolo da extrema-direita de Israel

Conhecido como 'A Sombra', Yoav Eliasi é próximo de lideranças como Itamar Ben-Gvir, o ultranacionalista ministro da Segurança Nacional

Por Ernesto Neves, de Tel Aviv
29 nov 2023, 14h01
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  • Mundo afora, o rap é associado à contestação de governos e da classe política em geral, quase sempre com viés de esquerda.

    Em Israel, no entanto, o mais famoso expoente do gênero foi alçado a ícone da estridente extrema-direita. Trata-se do cantor Yoav Eliasi, mais conhecido entre os israelenses como “The Shadow” (A Sombra). 

    Eliasi estourou em Israel nos anos 1990, quando tocava em dupla com outro rapper, conhecido como Subliminal.

    Na época, seu visual abusava das referências nacionalistas, incluindo o uso de vistosas estrelas de David, o símbolo máximo do judaismo, cravejadas de brilhantes.

    Ao longo da última década, Eliasi voltou às paradas com canções abertamente racistas, recheadas de xingamentos a populações árabes.

    Eliasi já pediu em suas letras que paramédicos extraíssem órgãos de palestinos mortos em ataques a judeus para que sejam usados em transplantes.

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    Também ajudou a organizar manifestações em apoio a um soldado israelense julgado pela execução de um palestino ferido.

    Durante a guerra contra a Faixa de Gaza em 2014, ele organizou uma violenta manifestação em resposta a um protesto pacifista de esquerda, mobilizando seguidores linha-dura para xingar os presentes no ato.

    Os seguidores do rapper, por sua vez, receberam a alcunha de “os leões do Sombra”, e dizem combater o que classificam como “o maior inimigo de Israel”: a esquerda.

    Em 2016, ele aderiu de vez à política e se filiou ao Likud, partido do atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu.

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    Durante as últimas eleições, em 2022, o músico participou da campanha do atual ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, expoente do partido ultranacionalista Força Judaica.

    Ben-Gvir tem como eleitorado principal os colonos da Cisjordânia, área da Palestina hoje parcialmente ocupada por Israel.

    “Eu dei a ele exposição e palco. Se você é um político, não consegue isso nem com dinheiro. A menos que você seja um bilionário. Acreditei nesse cara antes de qualquer um”, gabou-se à imprensa local.

    “Itamar Ben-Gvir’ é um ideólogo. Eu me vi nele. É um cara que está pronto para fazer as coisas do jeito certo”, prosseguiu.

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    “Eu disse a ele que conseguiríamos 14 assentos no Knesset. Ele riu e disse ‘Ficarei grato se conseguirmos 6’. Ganhei a aposta”, prosseguiu o rapper.

    Ao ser questionado numa entrevista à TV israelense se estava satisfeito com as ações do novo governo e de Ben-Gvir, que chegaram ao poder em dezembro de 2022, Eliasi afirmou que Ben-Gvir não é um autocrata.

    “Ele é o ministro da Segurança Nacional. E aceitou o pior emprego do mundo”, disse.

    A influência crescente do rapper no establishment político de Israel desperta críticas da imprensa e de observadores.

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    Segundo o jornal Haaretz, de esquerda, a filiação e a participação do músico no cotidiano do Likud “prova a deterioração moral da sigla, que cedeu ao racismo extremista”.

    Itamar Ben-Gvir e o rapper Yoav Eliasi
    O ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, e o rapper Yoav Eliasi (Divulgação/Divulgação)
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