A delicada situação econômica no bloco europeu tem um novo agravante. O calor exacerbado para os padrões da Europa, incluindo o recorde sem precedentes de 40,2º celsius no Reino Unido, tem efeitos diretos na saúde da população dos países mais afetados. Em paralelo, há também pressão no setor de energia, prejuízos na produção agrícola e ainda um possível impacto maior nos níveis inflacionários dos países do bloco, já em na média histórica de 8,6%.
A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) anunciou nesta terça-feira, 19, um “alerta vermelho” sobre o consumo de gás na Europa e cita a necessidade de uma redução maior no nível atual de consumo para atender os picos de demandas previstas no inverno. O consumo de energia pela população do continente é normalmente mais alto no inverno, em especial, entre dezembro e março, devido ao uso de aquecedores, e os governos europeus tradicionalmente contam com um aumento da demanda.
Com o verão europeu trazendo as fortes ondas de calor, a expectativa é de uma demanda também maior no período, causando mais desequilíbrio no setor, já em crise com o abalo da oferta energética com a escalada da guerra entre Rússia e Ucrânia. “Na Europa há uma infraestrutura energética montada para responder picos no inverno e o que as mudanças climáticas estão mostrando é que o verão também traz outros desafios”, avalia Diogo Lisbona, economista e pesquisador do Centro de Estudos e Regulação em Infraestrutura, da Fundação Getulio Vargas (FGV/CERI).
Para Lisbona, o desafio adicional de lidar com os atuais eventos climáticos não virá sem custo. No momento, na Europa, aumenta “a preocupação de resiliência das redes de energia para suportar os eventos extremos no verão”, menciona. Corrobora com esta tese o pesquisador do Insper Agro Global, Leandro Giglio, ao avaliar uma produção mais restrita e fortes impactos de custo ao produtor europeu.
Ao considerar as fortes ondas de calor na Europa, uma pesquisa publicada em 2021 no paper científico Nature Communications, estima uma redução anual de até 0,5% no Produto Interno Bruno (PIB), na média do continente europeu, considerando os últimos anos de maior nível de calor no continente. Setores como serviços e agriculturas seriam impactados com menor produtividade. “A Europa tem uma forte produção agrícola e podemos observar colheitas mais pobres no período de calor, o que aumenta os custos de produção e afeta diretamente os preços”, cita o economista Diego de Vasconcelos.