Com Polônia, sem África do Sul: como Donald Trump molda o G20 ao seu gosto
EUA assumem presidência rotativa do bloco das vinte maiores economias do mundo e tomam passo sem precedentes ao tentar excluir membro fundador
A África do Sul, que ocupa a atual presidência do G20, deve ser excluída do fórum das vinte maiores economias do mundo no ano que vem, quando a liderança rotativa passar para as mãos dos Estados Unidos. Em seu lugar, a Polônia deve ser convidada para a cúpula de 2026, informou na última quarta-feira 3 o secretário de Estado americano, Marco Rubio, mostrando que o presidente Donald Trump trabalha para moldar ao seu gosto o grupo que responde por cerca de 80% do PIB global.
Rubio anunciou a mudança em um comunicado intitulado “A América dá as boas-vindas a um novo G20”. “A Polônia, uma nação que antes estava presa atrás da Cortina de Ferro, mas que agora figura entre as 20 maiores economias do mundo, se juntará a nós para assumir o lugar que lhe cabe no G20”, escreveu ele.
O anúncio reflete o modus operandi do governo Trump, de recompensar bons resultados econômicos, ao mesmo tempo que sinaliza insatisfação com países que considera de baixo desempenho.
“Novo G20”
O G20 reúne líderes mundiais para um encontro anual, cuja agenda é amplamente definida pelo país sede. Além disso, os anfitriões têm grande liberdade para convidar participantes — convites esses muito valorizados por diplomatas de países menores e economias emergentes.
Trump sinalizou que vai conduzir o evento a rédeas curtas, inclusive realizando-o em seu clube de golfe particular, o Trump National Doral Golf Club, em Miami. O presidente americano planeja há tempos reduzir o número de participantes adicionais, incluindo a limitação de grupos de interesse que sempre frequentam a cúpula como observadores. Excluir a África do Sul, um membro pleno do G20, levaria a ingerência a um nível sem precedentes.
No comunicado da semana passada, Rubio elogiou a parceria da Polônia com os Estados Unidos e empresas americanas para promover o crescimento mútuo desde que o país europeu deixou o comunismo no retrovisor em 1989. Um sucesso que, segundo ele, é “prova de que focar no futuro é um caminho melhor do que focar em ressentimentos” — uma alfinetada direcionada a quem a carapuça servir, inclusive à Ucrânia.
A Polônia há muito almeja ser admitida no G20 e, em setembro, Trump convidou o presidente Karol Nawrocki, um nacionalista de direita a quem apoiou nas eleições deste ano, para a cúpula de Miami . Varsóvia intensificou o pleito por sua aceitação no G20, especialmente depois que sua economia bateu US$ 1 trilhão neste ano, tornando-se a 20ª maior do mundo ao ultrapassar a Suíça e se aproximar da Arábia Saudita e Países Baixos.
No texto publicado em uma newsletter do Departamento de Estado, Rubio traçou um forte contraste entre os cenários polonês e sul-africano, criticando a nação da África por suas políticas redistributivas e regulamentações onerosas. O chefe da diplomacia americana também criticou a presidência da África do Sul no G20, afirmando que o país ignorou rotineiramente as objeções dos Estados Unidos a comunicados e declarações consensuais, bloqueou a participação de Washington e de outros países nas negociações e “manchou a reputação do G20”.
Rusga com Ramaphosa
O veto inédito a uma nação fundadora do G20 vem na esteira de um conflito que Trump nutre com o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, desde o início de seu mandato, em janeiro deste ano.
A briga foi desencadeada pelas repetidas alegações do líder republicano, feitas sem provas, de que a África do Sul estaria cometendo “genocídio” contra africâneres brancos, descendentes principalmente de colonizadores holandeses que chegaram ao sul da África em 1652. Segundo Trump, eles enfrentariam discriminação, seriam afastados de empregos e viveriam sob a constante ameaça de violência ou de terem suas terras roubadas por um governo corrupto liderado por negros que deixou o país caótico. Embora tenha cortado o programa de refúgio nos Estados Unidos, recebeu por lá dezenas de sul-africanos que seriam vítimas de “racismo contra brancos”.
Os dados contam uma história diferente. Embora os brancos representem 7% da população do país, eles possuem pelo menos metade das terras da África do Sul. As estatísticas policiais não mostram que eles são mais vulneráveis a crimes violentos do que outros. E os sul-africanos brancos estão em uma situação muito melhor do que os negros em praticamente todos os indicadores econômicos.
Ramaphosa tentou convencer Trump deste cenário durante uma visita à Casa Branca em maio, mas foi surpreendido por uma emboscada que incluiu peças publicitárias que amplificavam as alegações. “Quando a África do Sul decidir que tomou as difíceis decisões necessárias para consertar seu sistema falho e estiver pronta para se reintegrar à família de nações prósperas e livres, os Estados Unidos terão um lugar reservado para ela em nossa mesa”, disse Rubio na quarta passada. “Até lá, os Estados Unidos seguirão em frente com um novo G20.”
Ao longo deste ano, o presidente americano boicotou a cúpula do G20 em Joanesburgo, em novembro, e altos funcionários de seu governo também faltaram a diversas reuniões ministeriais organizadas pela África do Sul antes do evento principal.
Apesar das críticas dos Estados Unidos, a nação africana permanece firme em suas posições. Ao concluir seu mandato como presidente do G20, Ramaphosa declarou: “A África do Sul é um dos membros fundadores do G20 e, portanto, membro do G20 por direito próprio. Continuaremos a participar como membro pleno, ativo e construtivo do fórum.”
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