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Cinco pontos para entender os protestos recentes em Cuba

País enfrenta primeira grande turbulência social em quase 30 anos, desde o 'Maleconazo', em 1994

Por Duda Gomes Atualizado em 14 jul 2021, 14h35 - Publicado em 14 jul 2021, 08h45

Com milhares de pessoas indo às ruas no último domingo, 11, para protestar contra o governo, Cuba enfrenta o primeiro grande protesto da população em quase 30 anos, desde o “Maleconazo”, em 1994. As manifestações começaram nas cidades de San Antonio de los Baños e Palma Soriano, e logo se espalharam por todo país. O pedido principal dos cubanos era por “liberdade” e pela renúncia do presidente Miguel Díaz-Canel.

Para entender o que está acontecendo no país, é preciso analisar os pontos principais que levaram à revolta da população.

Avanço da Covid-19

As novas variantes do coronavírus chegaram à ilha que tem uma baixa taxa de mortalidade, até o momento com bastante força. No último sábado, 10, Cuba registrou um recorde de 6.923 novas infecções.

A oposição, no entanto, afirma que os dados são falsos, e a realidade é pior do que eles mostram. Adversários políticos citam informações de que os hospitais ficaram tão sobrecarregados que pacientes estavam sendo atendidos nos corredores.

LEIA TAMBÉM: “Não temos medo, não temos medo, não temos medo”, dizem cubanos

O país registra cerca de 251.000 casos confirmados, incluindo 1.608 mortes causadas pela doença. A hashtag #SOSCuba foi levantada nas redes sociais, como uma forma de pedir ajuda internacional para a a população.

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O país também está desenvolvendo as próprias vacinas contra a Covid, o que deixa o governo sem recursos para importar medicamentos essenciais, e faz com que muitas farmácias fiquem vazias.

Crise econômica

Por conta da pandemia, o setor de turismo do país está parado. Além disso, a escassez de alimentos, medicamentos e produtos básicos assola o país há anos. Para conseguir alimentos, os cubanos têm que esperar por horas em filas para que consigam levar comida para casa.

Junto a isso, boa parte dos cidadãos enfrenta frequentes apagões, que chegam a durar horas. O motivo é que algumas usinas termelétricas que geram energia para a ilha estão tendo problemas com a chegada do verão, resultando em cortes no abastecimento de luz, que geraram grande indignação na população.

Enquanto em 2020 a economia do país contraiu em 11%, de acordo com a Economist Intelligence Unit, em 2021 haverá uma inflação de 400% a 500%.

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Com a redução da receita, o governo abriu várias lojas em dólar, uma medida extremamente impopular entre os cubanos, porque acentuou a diferença entre quem tem acesso à moeda americana e quem não tem. Como os dólares não podem ser adquiridos nos bancos ou casas de câmbio, o dinheiro chega para a população por meio de parentes no exterior ou pelo mercado ilegal.

Nas manifestações de domingo, várias dessas lojas foram saqueadas.

+ China defende regime cubano, após protestos em Havana

Sanções americanas

Há décadas a política externa dos Estados Unidos interfere na política interna cubana. Mais recentemente, o ex-presidente americano Donald Trump colocou em vigor sanções que dificultavam a entrada no país caribenho, com voos cortados e navios de cruzeiro proibidos. Além disso empresas estadunidenses foram autorizadas a processar multinacionais que investissem em Cuba.

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O atual presidente, o democrata Joe Biden, ainda não anulou nenhuma das sanções impostas no governo Trump, e o atual secretário de Estado americano, Anthony Blinken, criticou Cuba por “não atender às necessidades mais básicas da população”.

O antigo secretário de Estado, Mike Pompeo, já teria dito anteriormente a diplomatas que o intuito das medidas de Trump
era “matar de fome” os cubanos.

Ativismo online

Quando a internet móvel chegou à ilha, no final de 2018, possibilitou que a população tivesse mais poder de acesso à informação. Quatro milhões de pessoas que usam as redes sociais puderam acompanhar os protestos que aconteceram em diferentes partes do país, incentivando a adesão dos cubanos ao movimento.

Sites financiados pelos Estados Unidos, com o objetivo de “promover a democracia”, e com uma postura “anti-Castro” têm um papel importante para influenciar os moradores de Cuba.

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Em contrapartida, departamentos do Estado cubano também investem na promoção de propagandas, e algumas das plataformas financiados pelo país norte-americano foram bloqueadas nos últimos anos.

A mistura da sensação de desespero da população com notícias negativas sobre o país culminaram nos protestos de domingo. Em resposta às manifestações, o governo cortou a internet de toda a população, como uma forma de limitar a comunicação e organização de novos encontros, além de impedir a divulgação do que está acontecendo dentro do país.

Divisão geracional

Cuba é dividida politicamente por grupos de gerações diferentes. De um lado estão os mais velhos, que tendem a apoiar o governo, porque viveram em uma época em que a saúde, educação e cultura eram altamente valorizadas no país.

Do outro lado estão os jovens, que se inclinam mais para a oposição. Por viverem em um período de escassez e privações, vão contra ao sistema do regime, que segundo eles, não atende todas as necessidades da população.

Os mais novos pedem também uma sociedade mais democrática, em que o poder não seja tão centralizado, e muitos também se queixam dos embargos comerciais, econômicos e financeiros dos Estados Unidos a Cuba.

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