China cometeu ‘sérias violações de direitos humanos’ em Xinjiang, diz ONU
Relatório relacionado à campanha de detenção em massa de minorias muçulmanas foi divulgado pouco antes de Michelle Bachelet deixar Alto Comissariado
![Membros da tropa de choque da polícia durante manifestação em apoio à minoria uigur em Xinjiang. 22/12/2019](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/03/GettyImages-1190079100.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
A China cometeu graves violações de direitos humanos na província de Xinjiang, relacionadas à campanha de detenção em massa de minorias muçulmanas, sobretudo da etnia uigur, de acordo com um relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos publicado nesta quinta-feira, 31, poucos minutos antes do fim do mandato de Michelle Bachelet como chefe de agência.
De acordo com o documento, houve graves violações “no contexto da aplicação de estratégias de contraterrorismo e contra-extremismo” por parte do governo, levando a “padrões interligados de severas e indevidas restrições a uma ampla gama de direitos”.
“Esses padrões de restrições são caracterizados por um componente discriminatório, assim como os atos direta ou indiretamente afetam os uigures e outras comunidades predominantemente muçulmanas”, diz o documento, que corrobora acusações de diversos países de “padrões condizentes com a prática de tortura” e pede “urgente atenção da comunidade internacional”.
Em maio, Bachelet passou seis dias na China e visitou Xinjiang, marcando a primeira visita de um alto comissário de direitos humanos da ONU ao país em 17 anos. Na ocasião, a autoridade internacional disse ser uma prioridade se envolver diretamente com o governo chinês, em questões de direitos humanos “para que o desenvolvimento, a paz e a segurança sejam sustentáveis” local e globalmente.
![CHINA-UN-RIGHTS-XINJIANG This handout image taken and released on May 25, 2022 by the Office of the United Nations High Commissioner for Human Rights (OHCHR) shows a screen of UN human rights chief Michelle Bachelet (L) attending a virtual meeting with China's President Xi Jinping, in Guangzhou. (Photo by Handout / OHCHR / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/05/000_32B26CP.jpg?quality=70&strip=info&w=300)
A visita aconteceu em meio a denúncias de que pessoas da etnia uigur foram detidas ilegalmente, maltratadas e forçadas a trabalhar em Xinjiang. A região faz fronteira com o Paquistão e o Afeganistão e é o lar de milhões de uigures e outros muçulmanos turcos, que foram submetidos a uma campanha do governo chinês de controle cultural, linguístico e social e atos de opressão.
O oeste da China tem grande presença de muçulmanos de origem turca. Há anos, a relação do grupo com o governo chinês é conflituosa por apresentar diferenças culturais e religiosas. Ativistas e especialistas das Nações Unidas afirmam que ao menos um milhão de muçulmanos estão detidos em campos na região. Junto a alguns políticos do Ocidente, os ativistas também acusam a China de tortura, trabalho e esterilizações forçados.
No ano passado, a União Europeia impôs sanções contra quatro autoridades chinesas por graves violações e abusos de direitos humanos com ligação à repressão aos muçulmanos uigures na região. Embora majoritariamente simbólicas, as medidas marcam um endurecimento significativo das políticas europeias em relação ao país asiático.
Pouco depois, os Estados Unidos anunciaram a proibição das importações de produtos com origem na província de Xinjiang, tendo como justificativa a repressão feita por autoridades. A embaixada da China em Washington afirmou que o ato “ignora a verdade e calunia maliciosamente a situação dos direitos humanos”.