Até para a Venezuela, país instável, a semana foi tumultuada. A primeira turbulência afetou — em solo — o avião presidencial do ditador Nicolás Maduro. A aeronave foi confiscada pelas autoridades americanas na República Dominicana, onde passava por reparos. O Dassault Falcon 900EX havia sido comprado pelo governo bolivariano nos Estados Unidos por meio de uma empresa de fachada, ao valor de 13 milhões de dólares, e contrabandeado para Caracas. “Que esta apreensão envie uma mensagem clara: Maduro e seus comparsas não podem voar à vontade em um avião adquirido ilegalmente”, disse Matthew Axelrod, subsecretário do Departamento de Comércio. Acumulando dissabores, o tiranete viu a descontente população sofrer os efeitos de um apagão que deixou vinte dos 24 estados no escuro. “Uma sabotagem energética golpista”, gritou. Para alegrar o povo, sacou a caneta presidencial e, por decreto, antecipou, de modo ridículo, o Natal para 1º de outubro, atalho para benesses financeiras. No pacote de torpedos, o mais grave foi disparado por um tribunal pró-governo, ao emitir mandado de prisão contra Edmundo González, o oposicionista de quem a vitória eleitoral foi subtraída. González vive escondido e não compareceu a três intimações para depor — eis a justificativa mequetrefe para o mandado. Enquanto os governos do Brasil, da Colômbia e do México tentam reabrir um canal de comunicação com Maduro para tratar do impasse, os venezuelanos, sem opções, tristes, sofrem numa nação atropelada pelo autoritarismo.
Publicado em VEJA de 6 de setembro de 2024, edição nº 2909