Cavalos, joias, selos raros: a fortuna de R$ 11,4 bi do rei Charles III
Investigação do The Guardian fez levantamento dos bens do monarca, cujos valores são muito bem escondidos do escrutínio público
O patrimônio líquido dos monarcas do Reino Unido é intencionalmente escondido do público e quase impossível de estimar. Mas o jornal britânico The Guardian realizou a primeira auditoria abrangente dos bens do rei Charles III, e revelou, nesta quinta-feira, 20, que sua riqueza é estimada em 1,8 bilhão de libras (cerca de R$ 11,4 bilhões de reais).
A investigação fez o levantamento de posses desde casas de campo a joias incrustadas de diamantes, bem como pinturas de Monet e Dalí, Rolls-Royces, cavalos de corrida e selos raros. O ativo financeiro mais valioso da família Windsor, no entanto, continua sendo a imunidade total do imposto sobre herança, o que significa que Charles recebeu a fortuna de sua mãe sem qualquer contribuição ao Tesouro.
O Palácio de Buckingham respondeu à reportagem dizendo que “seus números são uma mistura altamente criativa de especulação, suposição e imprecisão”, mas se recusou a fornecer os dados corretos. A família real nunca comenta sobre suas finanças pessoais, insistindo que os valores devem “permanecer privados, como fazem com qualquer outro indivíduo”.
A fortuna de 1,8 bilhões de libras do rei, no entanto, mostra que os monarcas não são como qualquer outro indivíduo. A estimativa do Guardian é três vezes maior do que um cálculo recente de outro jornal britânico, o Sunday Times, que deixou vários ativos valiosos de fora.
Carros: Os Windsor são transportados para lá e para cá por uma frota de Rolls-Royces, Bentleys e Jaguars. Alguns são de propriedade privada ou emprestados aos membros da família real pelos fabricantes. Outros ficam sob a posse do soberano “por direito da coroa”, o que significa que não são propriedade privada. Para complicar, alguns veículos classificados como “carros do Estado” são usados em particular. Segundo o Guardian, um cálculo “conservador” dos carros seguramente considerados privados sugere que eles valem 6,3 milhões de libras (R$ 40 milhões).
Propriedades: A maioria dos castelos do Reino Unido, como o Palácio de Buckingham e o Palácio de Kensington, não são de propriedade do rei Charles III em pessoa, mas do soberano de direito da coroa. Ainda assim, ele herdou de sua mãe, rainha Elizabeth II, duas propriedades rurais: o castelo de Balmoral, na Escócia, e o castelo de Sandringham, em Norfolk. Os edifícios históricos e as terras circundantes valem, respectivamente, 80 milhões de libras e 250 milhões de libras. O total, 330 milhões de libras (R$ 2,07 bilhões), é a porção mais valiosa da fortuna de Charles.
Cavalos: Proprietária e criadora entusiástica de cavalos de corrida, a rainha Elizabeth investiu uma quantidade incontável de tempo, esforço e dinheiro na busca do que ela descreveu como “filosofia simples” para criar “cavalos mais rápidos que os de outras pessoas”. O legado: 70 puros-sangues, cujo valor total estimado é de pelo menos £ 27 milhões (R$ 170 milhões). Charles começou a liquidar seus ativos equinos; desde a morte de sua mãe, ele ganhou £ 2,3 milhões (R$ 15 mil) com a venda de cavalos em leilão, incluindo alguns dados à rainha pelo Emir de Dubai e Aga Khan.
Selos raros: A coleção real de selos é considerada a melhor do mundo e contém centenas de milhares de exemplares, alguns dos quais foram colhidos pelo bisavô de Charles, George V, dos Correios Britânicos e colônias do Império. O consenso entre quatro especialistas consultados pelo Guardian é que o conjunto da obra vale pelo menos £ 100 milhões (R$ 630 milhões).
Obras de arte: A família real britânica foi presenteada, ao longo de décadas, com inúmeras pinturas valiosas durante viagens ao exterior, ampliando suas coleções particulares. Entre eles estão peças de Marc Chagall e Salvador Dalí, que foram doadas ao príncipe Philip, pai de Charles. Mary, a rainha-mãe, avó do atual rei, também era ávida colecionadora de arte, tendo comprado um Monet em Paris logo após a II Guerra por uma barganha: 2 mil libras (R$ 12,6 mil) – hoje, o quadro vale cerca de 20 milhões (R$ 126 milhões). O Guardian estimou o valor total das obras de arte na coleção privada de Charles em 24 milhões de libras (R$ 151,8 milhões), o que o jornal considera uma “subestimação significativa”).
Joias: Vários dos itens mais conhecidos foram avaliados em 1989 pelo especialista em joias Laurence Krashes para um livro do jornalista Andrew Morton. No entanto, nenhuma dessas estimativas conta com a margem de lucro que as joias ganhariam com o tempo – Morton especulou que o prêmio multiplicaria seu valor inerente por dez, mas em um leilão de joias pertencentes à princesa Margaret, em 2006, os itens foram vendidos por uma média de 18 vezes mais do que sua estimativa anterior. Optando pela sugestão mais conservadora de Morton, as 54 joias privadas da família real valeriam 533 milhões de libras (R$ 3,36 bilhões).
Mercado de ações: Durante décadas, os investimentos reais foram ocultados por uma empresa de fachada, criada para proteger a riqueza “constrangedora” da rainha. Em 1993, o jornal britânico The Times descobriu ao menos 43 milhões de libras em investimentos do monarca – só esse montante, hoje, valeria no mínimo 118 milhões de libras hoje (R$ 742,8 milhões). Além disso, o monarca e herdeiro do trono também recebe dezenas de milhões de libras anuais em “renda privada” de propriedades hereditárias que, economizadas na mesma taxa que a média das famílias britânicas (9%), o rei e sua mãe teriam acumulado 58 milhões de libras extras, elevando o montante para 142 milhões de libras (R$ 893,9 milhões) – o Guardian descontou 17 milhões de libras do pagamento do divórcio que Charles fez a Diana em 1996.
Ducado: O Ducado de Lancaster, um pedaço de terra cheio de propriedades que é administrada como um negócio lucrativo, fornece a quem estiver no trono pagamentos anuais de cerca de 20 milhões de libras por ano (R$ 126 milhões). Já suas contas declaram ativos de 653 milhões de libras (R$ 4,3 bilhões). Os britânicos a favor do republicanismo há muito argumentam que o ducado deveria ser um bem público e que seus rendimentos deveriam ir para o Tesouro.