Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Carta ao Leitor: O direito de ir e vir

É triste constatar que a entrada de estrangeiros, que jamais deveria ser condenada em nenhum canto, serve de alimento para a estupidez discriminatória

Por Da Redação Atualizado em 26 ago 2024, 15h05 - Publicado em 23 ago 2024, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A caminhada da humanidade nasceu de um fluxo migratório. Há 130 000 anos, o Homo sapiens deixou a África a caminho de Papua-Nova Guiné e da Oceania, e depois em direção à porção do planeta onde hoje está a Europa. Viver fora da terra de nascimento — em busca de comida e paz — é a gênese da civilização. É movimento que ajudou a construir a beleza da diversidade das nações, ainda que a razão dos deslocamentos seja o beco sem saída de quem busca apenas sobreviver ou fugir do jogo viciado da colonização. Os Estados Unidos, construídos em sua origem por ingleses e depois por cidadãos de todas as partes do planeta, são fruto dessa história. O Brasil tem a marca inicial de portugueses, com a chegada de grupos de imigrantes em outros momentos de sua história. Parece não haver dúvida: o mundo é costurado pela rica colcha de retalhos de permanente vaivém, e a única resposta possível a esse balé de lá para cá é respeitá-lo em nome da dignidade humana.

    Em decorrência de uma mescla de mazelas econômicas e tremores políticos, os êxodos modernos vêm tomando contornos superlativos e rachando as sociedades embebidas em polarização. Não por acaso, o tema da migração virou peça central no xadrez da sucessão de Joe Biden. O republicano Donald Trump, que nunca escondeu o pendor xenófobo, fez da construção de um muro na fronteira com o México um dos pilares de seu primeiro mandato e slogan da atual campanha. A vice-presidente Kamala Harris, o nome dos democratas para a eleição de novembro, foi designada a seguir de perto o assunto. Espinhoso, claro, por pressupor, ao menos no campo teórico, a perda de votos de americanos que demonstram ojeriza pelo que vem de fora. De fato, a rejeição ao vizinho (na verdade, ao vizinho diferente) é uma realidade americana. Atualmente, os latinos representam 18% da população do país, o equivalente a mais de 62 milhões de pessoas, força econômica irrefreável e necessária, mas muitas vezes discriminada.

    É triste constatar que a entrada de estrangeiros, que jamais deveria ser condenada em nenhum canto, serve de alimento para a estupidez discriminatória, como se viu na temporada de Trump na Casa Branca. Recentemente, aliás, o pleito para o Parlamento Europeu elegeu um imenso contingente de deputados na contramão da bonita ideia de unificação — o que eles pretendem é erguer grades, dificultar a acolhida, em passos que ecoam em países como a França e a Itália. Ironicamente, muitos que hoje espalham esse ódio se esquecem de que seus antepassados também não nasceram naquelas nações. Foram tentar a sorte e por lá ficaram. No Brasil, o tom é diferente — embora despontem ruídos em torno da chegada de mais de 30 000 venezuelanos atingidos pela derrocada imposta pelo regime de Nicolás Maduro.

    O acolhimento não pode ser segregativo. Como mostra reportagem da edição, o chauvinismo é atalho para o radicalismo, para o desrespeito aos direitos humanos. O escritor e poeta italiano Dante Alighieri (1265-1321) pontuou o perigo: “Da pequena faísca pode surgir uma chama poderosa”. Foi o que vimos, para ficar com apenas um exemplo, na eclosão do nazismo de Adolf Hitler. Ele elegeu os judeus, a maioria com ascendência de muitas gerações na Alemanha, como inimigos da nação ariana. Deu no que deu. O melhor é olharmos para o lado bom de casos como o do Brasil, país que na virada do século XIX para o XX abrigou italianos, alemães e japoneses, o cimento para uma sociedade mais rica, tanto do ponto de vista da economia quanto da cultura. O direito de ir e vir é inalienável.

    Publicado em VEJA de 23 de agosto de 2024, edição nº 2907

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.