Canadá e EUA chegam a acordo para substituir Nafta
Espera-se que o maior impacto seja na indústria de automóveis; tarifas americanas ao aço e alumínio canadense permanecem em vigor
Negociadores canadenses e americanos chegaram a um acordo para substituir o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). O acerto aconteceu na noite de domingo, a poucas horas do fim do prazo limite.
O novo tratado receberá o nome Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês), segundo informou uma declaração conjunta dos países.
A nova versão do Nafta, em vigor desde 1994 entre Estados Unidos, Canadá e México, começou a ser renegociada em 2017 por exigência do presidente americano, Donald Trump, que considerava o pacto um “desastre” para seu país.
O comunicado, assinado pelo representante do Comércio dos Estados Unidos, Robert Lighthizer, e pela ministra das Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland, destaca que o novo acordo entre os países da América do Norte vai gerar um “crescimento econômico sólido”.
Depois de mais de um ano de negociações, os governos conseguiram superar as divergências e ceder em alguns aspectos. No comunicado, celebram o acordo com um como algo positivo para os cidadãos da região, onde vivem quase 500 milhões de pessoas e que movimenta um trilhão de dólares por ano em comércio.
Espera-se que o acordo atinja com mais força a indústria de automóveis. A partir de agora, uma porção maior dos veículos comercializados nos três países deverá ser produzida na América do Norte.
Além disso, o pacto exige que quase metade do conteúdo regional seja fabricado por trabalhadores que ganhem pelo menos 16 dólares por hora. Atualmente, algumas fábricas do México chegam a pagar 2 dólares por hora aos seus funcionários.
Trump usou sua conta no Twitter nesta manhã para celebrar o entendimento. Segundo o presidente, o pacto é “histórico” e “maravilhoso”.
Para Trump, o acordo é positivo para os três países e resolve deficiências do Nafta. A iniciativa reformada abre mercados para fazendeiros e indústrias, reduz barreiras tarifárias para os EUA e aproxima os países “em competição com o restante do mundo”. “O USMCA é uma transação histórica”, afirmou o presidente.
“Parabéns ao México e ao Canadá”, comemorou.
O acordo
Para concluir o acordo, o Canadá cedeu no sistema de cotas para o leite, o que abrirá seu mercado aos produtores americanos. Ottawa, porém, conseguiu preservar o sistema do Nafta de solução de conflitos entre os sócios, que Washington desejava modificar.
Desta forma, os Estados membros do pacto poderão contestar as restrições comerciais impostas pelos outros nos tribunais especiais do Nafta.
O novo pacto também incluirá um capítulo ambiental e, como parte do acordo, o Canadá poderá conservar a proteção aos seus setores cultural e automotivo.
“O USMCA proporcionará a nossos trabalhadores, agricultores, fazendeiros e empresas um acordo comercial de alta qualidade que dará como resultado mercados mais livres, comércio mais justo”, afirmaram os governos americano e canadense no comunicado conjunto, publicado 90 minutos antes do fim do prazo limite fixado pelos Estados Unidos.
O novo acordo também estabelece, pela primeira vez, regras para serviços financeiros e negócios digitais que surgiram desde que o Nafta foi criado, de forma a atender os interesses de vários setores – de empresas farmacêuticas aos mercados financeiros.
O primeiro-ministro canadense Justin Trudeau saiu às pressas de uma reunião em caráter de urgência com seus ministros no domingo e declarou apenas que “é um bom dia para o Canadá”.
Para o Canadá a pressão era grande, pois Estados Unidos e México já haviam concluído um acordo. O tempo era o principal obstáculo, já que o atual presidente mexicano Enrique Peña Nieto deixará o cargo no dia 1 de dezembro.
As negociações aconteceram de forma remota, ao contrário de outras rodadas de diálogo, quando a chanceler canadense viajou a Washington.
O anúncio veio após um final de semana inteiro de trabalho por videoconferência dos negociadores para alcançar o acordo de última hora
Aço e alumínio
O calendário eleitoral complicava as coisas para os negociadores canadenses. As concessões no setor de laticínios podem ser mal recebidas em Quebec, que vota nesta segunda-feira para definir o próximo governador da província francófona.
Os principais partidos de Quebec e as organizações de agricultores defendem o sistema de “administração da oferta”, que controlava a produção e o preço do leite e das aves de curral, além de garantir um faturamento estável para os agricultores canadenses.
As pesadas tarifas impostas por Trump ao aço e alumínio canadense, entre outras, permanecem em vigor no momento, em um contexto no qual o governo dos Estados Unidos realiza uma campanha protecionista que afeta vários países.
O texto final inclui uma cláusula que permite revisar o acordo a cada seis anos, de acordo com uma fonte americana.
(Com AFP, Estadão Conteúdo e EFE)