O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, foi reeleito no domingo 4, confirmando sua força no pleito que lhe concedeu, segundo resultados provisórios, 83% dos votos. Embora seu governo esteja envolto em controvérsias devido à concentração de poderes no executivo, levantando preocupações a respeito da erosão da democracia no país centro-americano, suas duras medidas para a repressão de gangues e segurança parecem ter sido suficientes para garantir um novo mandato.
O líder de 42 anos, que refere-se a si mesmo como “o ditador mais descolado do mundo”, chamou as eleições de um “referendo” sobre o sua administração. Bukele declarou-se vencedor antes do anúncio dos resultados oficiais, alegando ter obtido 87% dos votos. Milhares de apoiadores do presidente, vestidos de azul ciano e agitando bandeiras, aglomeraram-se na praça de San Salvador para celebrar a vitória esmagadora.
“Todos juntos, a oposição foi pulverizada”, disse Bukele, ao lado de sua esposa, na varanda do Palácio Nacional, aos seus apoiadores. “El Salvador passou de [país] mais inseguro a mais seguro. Agora, nos próximos cinco anos, esperem para ver o que faremos”, acrescentou.
Espera-se que o seu partido, Novas Ideias, conquiste quase todos os 60 assentos no corpo legislativo, o que significa que Bukele terá ainda mais influência, tornando-se efetivamente o líder mais poderoso da história moderna de El Salvador, e será capaz de reformar a constituição. Seus oponentes temem que isso resulte na eliminação dos limites de mandato.
Segurança em foco
Com popularidade beirando os 90%, Bukele fez uma campanha baseada no sucesso de sua estratégia de segurança. A criminalidade caiu de 107 homicídios para cada 100 mil pessoas, em 2015, para 2,3 homicídios por 100 mil habitantes, em 2023, mas a um custo alto. Estima-se que mais de 75 mil salvadorenhos foram presos sem acusações, mais de 1% de toda a população.
As políticas de segurança de linha-dura, além disso, são apoiadas em um enorme investimento em estratégica comunicacional, e ao mesmo tempo um ataque direto às instituições. Em paralelo às prisões, Bukele destituiu o procurador-geral e substituiu os juízes da Suprema Corte por aliados, criando um modus operandi de encarceramentos indiscriminados (sem ordens judiciais), ausência de processos legais (prorrogando indefinidamente o tempo de prisão), e abusos e condições precárias na cadeia.
Poucos duvidam, porém, do resultado das eleições. Pesquisas eleitorais evidenciam que a maioria dos eleitores queria recompensar Bukele por dizimar as gangues, ou “maras”, como são conhecidos os grupos de crime organizado em El Salvador, que tornaram a vida intolerável no país e alimentaram ondas de imigração para os Estados Unidos.
A projeção é que os candidatos do FMLN e ARENA, dois partidos que, antes da primeira eleição de Bukele, em 2019, costumavam alternar o poder entre si, receberam apoio de um dígito, marcando a rejeição às forças tradicionais cujo governo foi marcado pela violência e pela corrupção por décadas.
Desafios
O maior obstáculo de Bukele no segundo mandato será, provavelmente, a economia, que registou o crescimento mais lento da América Central durante o seu período no poder. Mais de um quarto dos salvadorenhos vive na pobreza.
A pobreza extrema duplicou e o investimento privado caiu sob Bukele. O Fundo Monetário Internacional (FMI), que está negociando um resgate de US$ 1,3 bilhões com El Salvador, descreveu no final de 2023 a situação fiscal do país como “frágil”.