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Britânicos votam em eleição que deve encerrar 14 anos de poder conservador

Cansaço com Partido Conservador deve render aos trabalhistas, de centro-esquerda, sua maior vitória no Reino Unido e tirar Sunak do cargo de premiê

Por Da Redação
Atualizado em 4 jul 2024, 08h49 - Publicado em 4 jul 2024, 08h37
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  • O Reino Unido deu a largada nesta quinta-feira, 4, à eleição parlamentar que deve levar o Partido Trabalhista, de centro-esquerda, ao poder, encerrando 14 anos de governo do Partido Conservador, de centro-direita. Se as projeções estiverem corretas, o primeiro-ministro do país, Rishi Sunak, perderá o cargo e será substituído pelo líder trabalhista, Keir Starmer.

    Uma pesquisa do YouGov prevê que o Partido Trabalhista conquiste 39% dos votos, o que renderá 431 assentos no parlamento à legenda, um incremento de 229 em relação a 2019, quando ocorreu a última eleição geral. Já o Partido Conservador deve ganhar 22% de apoio, o que equivale a 102 cadeiras no legislativo, 263 a menos que em 2019.

    A perda de apoio dos conservadores também ocorreu devido ao avanço do partido de extrema direita Reform UK, que sob a liderança de Nigel Farage, ultranacionalista que liderou a campanha do Brexit, deve obter 15% dos votos.

    Cansaço total

    Estimativas apontam que até 64% dos 14 milhões de britânicos que optaram pelo Partido Conservador em 2019, quando o carismático Boris Johnson impôs uma fragorosa derrota aos adversários, agora podem votar nos trabalhistas. Nesse cenário, parece que o Reino Unido caminha na contramão da virada para a ultradireita do resto da Europa, que tem visto ganhos da extrema direita.

    O previsto avanço do Reform UK, porém, aponta que não é bem assim – o eleitorado britânico simplesmente não suporta mais os conservadores e querem simplesmente pôr um fim às turbulências da gestão que teve cinco primeiros-ministros em oito anos. As pesquisas mostram que, para 73% dos britânicos, “é hora de mudar”.

    Tudo se desenha para que Starmer, um ex-advogado de direitos humanos de 61 anos, assuma o cargo de premiê. Socialista militante convertido em parlamentar pragmático, famoso por mudar de opinião conforme os interesses do momento (apelido: Camaleão), ele assumiu o comando dos trabalhistas em 2019 por ser o exato oposto do então líder Jeremy Corbyn, um ultraesquerdista frequentemente acusado de antissemitismo, que levou o partido a sua pior derrota eleitoral em oitenta anos.

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    Uma vez na liderança, Starmer tratou de expurgar as alas à esquerda, direcionou a sigla para o centro e abraçou bandeiras do outro lado particularmente caras ao eleitorado, como a repressão à imigração ilegal.

    “Hoje, o Reino Unido pode começar um novo capítulo”, disse ele aos eleitores em comunicado na quinta-feira. “Não podemos permitir mais cinco anos sob o governo dos conservadores. Mas a mudança só acontecerá se votarmos no Partido Trabalhista.”

    As 40 mil assembleias de voto do país abriram às 6h do horário local. Sunak, 44 anos, votou cedo com sua esposa, Akshata Murty, no distrito eleitoral de Richmond, no norte da Inglaterra, que ele representa no parlamento – assento que corre o risco de perder. Já Starmer votou com sua esposa em seu distrito eleitoral, no norte de Londres.

    Estratégia de risco

    Por que, em cenário tão desfavorável, Sunak resolveu antecipar as eleições programadas inicialmente para o fim do ano? Segundo especialistas, por desespero — se arrastasse a agonia, seu partido iria sangrar mais ainda.

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    O primeiro-ministro aproveitou a volta da inflação ao aceitável patamar de 2% em maio (eram 11% em 2022, quando ele assumiu, a maior em quarenta anos) e a dificultosa aprovação de seu projeto anti-imigração, calcado na deportação de indesejáveis para Ruanda, para convocar uma eleição em que a derrota é certa, na esperança de se sair um pouco melhor do que indicam as pesquisas e evitar um vexame total.

    Nesta quinta-feira, o premiê conservador emitiu um novo apelo aos eleitores, dizendo que um governo trabalhista aumentaria os impostos, dificultaria a recuperação econômica do país e deixaria o Reino Unido mais vulnerável num momento de tensão geopolítica, acusações que os trabalhistas negam.

    “Eles causarão danos duradouros ao nosso país e à nossa economia – tal como fizeram na última vez que estiveram no poder”, disse Sunak. “Não deixe isso acontecer.”

    A votação termina às 22h (18h em Brasília), quando uma pesquisa de boca de urna dará a primeira indicação dos resultados. O desfecho oficial deve ser divulgado na madrugada de sexta-feira.

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    Punição ao governo

    A principal estratégia dos trabalhistas nesta eleição foi bater no Partido Conservador – o que não é muito difícil. O Serviço Nacional de Saúde, que já foi um orgulho britânico e passou por seguidos cortes de verba nos governos conservadores, 40% dos pacientes aguardam mais de quatro horas por atendimento nos prontos-socorros e a internação em hospitais pode levar até doze horas.

    O Brexit, do qual a maioria dos apoiadores de 2016 hoje se arrepende, não trouxe o impulso esperado — pelo contrário, a economia estagnada reduz a produtividade a seu nível mais baixo desde a Revolução Industrial, a renda média dos britânicos é hoje 43% menor do que a dos americanos, a crise imobiliária faz com que o número de sem-teto no país seja o mais alto do mundo desenvolvido e o crescimento médio do PIB, do divórcio da União Europeia até 2025, deve ser de parco 0,8%.

    Responsáveis maiores pelo declínio, os conservadores se dividiram e uma ala mais à direita vive em pé de guerra com os colegas mais tradicionais. As brigas internas paralisaram e derrubaram governos — foram cinco em oito anos.

    Se vencerem, os trabalhistas falam em trazer de volta o crescimento através de uma nova política industrial, marcada por subsídios e proteção contra a concorrência externa, mas não pretendem se desviar da austeridade em vigor e avisam que vão aumentar impostos — só garantem mesmo a manutenção do imposto de renda como está. “Starmer fez propostas realistas, semelhantes às dos conservadores”, disse Steven Fielding, professor de história política da Universidade de Nottingham, em entrevista a VEJA.

    A se julgar pelas pesquisas, a essa altura, desde que o novo primeiro-ministro consiga domar o Parlamento e pôr o governo em movimento, é o que basta para os britânicos.

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